quarta-feira, junho 30, 2010

Manjar de térmitas

Manjar de Térmitas

Cala-te!
Sufoca...
E arde...
Vê como a tua própria carne facilmente se putrefaz...

Agora vocifera essa emoção que é arder
Sente cada parte do teu corpo lentamente a derreter
Inala esse fumo da chama flamejante
Que se adiciona à dor do teu carbonizar

Sente o teu corpo cair
Nas tuas próprias cinzas
E dá graças à invulgaridade do teu ser
Que arde sem desfalecer sem cessar de viver

Tremes incontrolavelmente, mas de todo não tens frio
Mantens esses olhos de pânico estupidamente abertos
Sim! Estupidamente!
Não vês que o fogo ainda arde idiota?

E queimam-se os teus olhos
E as tuas órbitas oculares ficam vazias
A chama espalha-se para o teu interior
Queimando tudo o que o compõe

Agora que o teu coração está reduzido a cinzas
Congratulo-te por seres um cadáver
Mas ninguém sabe quem és
Ninguém sabe onde estás?

E agora?

Magicamente a chama apaga-se
Precisamente antes dos teus restos mortais
Carbonizarem-se por completo
Mas estes tornam-se agora... um manjar de térmitas...

domingo, junho 27, 2010

Depressivo-Maníaco

Depressivo-Maníaco

Quero ver-te de novo
Abraçar-te e admirar a tua graciosidade
Sem palavras
Não há necessidade

Quero-te ver deitada nos meus braços
E acariciar as extremidades do teu sorriso
Enquanto te aninhas contra o meu peito
Dando a entender que te sentes protegida

Quero sorrir na graça do teu dormir
E como poderia dormir também
Tendo o conceito de beleza
Na futilidade do meu lado

Se me amasses
Eu morreria de felicidade
Pois o meu coração débil
Sucumbiria perante alegria de possuir o teu amor

Enquanto digo estas palavras
Tenho o típico aspecto de depressivo-maníaco
Vestido de robe
Com a barba por fazer
Com um banho por tomar
Com um emprego por procurar...

Por favor... salva-me da loucura...

sábado, junho 26, 2010

Necromancia Romântica

Necromancia Romântica

Numa necromancia
Encontrei a minha paixão
E a chorar da ânsia, de não te ver
Não entendia a razão

Porque amo algo fisicamente inexistente?
Sinto-me idiota
Sinto-me doente
Para mim a realidade tornou-se uma dimensão morta

Oiço a sua voz
Inaudível aos outros
Isto é o mundo de nós
De mais ninguém

Tornei-me num viciado necromante
Para a ouvir
Aquela voz apaixonante
Delicada e doce

É como se o sabor do mel
Fosse de apreciação auditiva
Não quero mais nada...
Tudo o resto é estrume à deriva

"Leva-me contigo!" - pedi-lhe eu
Ela hesitou
"A dimensão a que chamam realidade já não é um mundo meu" - insisti
E ela me levou

Agora eu sou dela
E ela é minha
Eu sou o seu escravo
E ela a minha Rainha....

Isto não é o nosso mundo...
Fui seduzido para o Inferno...

sexta-feira, junho 25, 2010

Hipoteticamente Impossível

Hipoteticamente Impossível

E fico a pensar
Porque és como as ondas do mar?
Porque não vens para ficar?

Isto é sentir que te tenho
Sem te ter
Vejo-te voltar mas voltas a desaparecer

E fico a pensar
Quem me dera que fosses uma doença terminal
E ficasses comigo até ao meu findar...

Irrealidade Nocturna

Irrealidade Nocturna

Nos meus sonhos
A minha alma e a tua
Abraçam-se numa dança rodopiante
Atravessando a luz da lua
Para que o mundo inteiro possa contemplar
O que sentimos um pelo o outro

Nesse abraço
E como num ágil movimento de tango
Coloco a palma da minha mão direita nas tuas costas
E com teu corpo dobrando
Cubro os teus lábios com os meus
E paro o nosso tempo

Assim morreremos nós os dois
Num beijo sentido e interminável...

quinta-feira, junho 24, 2010

Um cenário de angústia...

Um cenário de angústia...

Na criança de um novo dia
Nasce uma desculpa para a crueldade
A corrupção da graciosidade
Que é a paixão de duas almas

Duas almas dançantes
Na divindade do anoitecer
Mas fisicamente imóveis
Devido à injustiça que é viver

Assim dá claramente para perceber
Que o amor é como as noites de lua cheia
De uma beleza difícil de entender
E que demora tanto tempo a alcançar

Na sua mente ele é veloz
Um cavalo lusitano
Ele quer que ela oiça a sua voz
Adornada de palavras de afecto

Não fossem as suas pernas imóveis
Assim como as dela...
E não estivessem ambos caídos
Sob uma noite tão bela

Mas a beleza da noite
É inversamente proporcional
À sorte que os dois tiveram
Ainda que directamente proporcional
Às palavras que ambos disseram

Os olhos dele nos olhos dela
E os olhos dela nos olhos dele
Ele desespera por ela
Ela chora por ele

Ambos se esforçam para se alcançar
Mas estão presos ao chão
O seu poder de amar
Vale fisicamente nada

Deve sofrer o cruel culpado
De tal acto de malevolência
A mente psicopata
Perdida na demência...

Enfim...
Num cenário de desespero
Tudo acabou...

Jaz agora debaixo da lua cheia
Os corpos ensanguentados
Das duas almas que lutaram por amor
Dos dois seres apaixonados...
Que só conheceram dor

Insónia

Insónia

Aos portais do sono
Dá-se o meu acordar
Aos portais do despertar
Já acordado me encontro
Tudo pelos elementos
Que progressivamente estão a preencher
Todo o refúgio da minha mente
Como pó que depois de limpo volta a aparecer

O descanso é-me desconhecido
Que faz de mim mais que um morcego, um insone
A quem o caminho para o sono
Jamais será desobstruído
E as partículas desnecessárias
Que constituem o pensar
Deixaram de ser uma virtude ao me atormentar

Eu só quero esquecer...
Só quero dormir...

sexta-feira, junho 18, 2010

Livre e imortal!

Livre e imortal!

E agora é o fim
É a queda das grades
É a liberdade
É a imortalidade

E encontro-me no florescer duma nova era
Libertar-se-á a minha fera
A minha fera interior
Que foge agora das asas do condor!

Acabou-se a escravatura mental
Abandonei o ergástulo
E metade do meu pessimismo filosofal
Sou imortal!

Possuo a esperança de esquecer
Um passado de tormentório
Possuo a esperança de ter
Um tão merecido tempo

Tempo para ser
Tempo para fazer
Tempo para pensar
Tempo para gastar!

Estou livre do pensamento inútil
Do antro de miséria
Dos olhares de gente fútil
E Da minha face severamente preocupada e séria

O meu tempo é agora infinito
Sou completamente imortal
E as palavras deixaram de ser de sofrimento
Mas de egoísmo e de mal!

Tal a natureza do ser humano
A minha natureza!
Tão odiável
Mas tão inegável

Sou livre como um lobo
Imortal como só eu posso ser...
Como um demónio...


-


Aproveito para dizer... R.I.P. - José Saramago...

quarta-feira, junho 16, 2010

Domínio

Domínio

Originado dos dominadores...
Copiado de semelhantes
Mas jamais questionado!
E facilmente doutrinado...

Imposto a partir do medo
Dando a origem a uma enorme contradição
A malevolência oculta em palavras de bondade
Pois a igreja tem razão, a igreja tem sempre razão...

Oh Santa Inquisição!
Organização dos bondosos!
Queimai todos os blasfemos!
Agentes de Satanás maldosos!

Deitai fogo no que não interessa...
Deitai fogo na verdade!
Para que ninguém a conheça
E conheça apenas a vossa bondade...

Vós os ateus!
Irão arder no inferno!
Sufocar no inferno!
Porque Deus vos odeia!

Deus odeia a sua própria criação!
Excepto se o amarem... a esse ser egocêntrico...
Deus quer o vosso dinheiro!
Invistam na Igreja, Deus sabe lidar com tudo menos com dinheiro!

Agora pergunto...
Ainda estou a tempo de ser salvo?
Quando me tornar defunto
Deixas-me entrar no teu Reino?

"Raios, não!
Criei-te como agente de Satanás!
Não venhas chorar na minha mão!
Serás torturado, sufocarás e arderás!"

Deus não quer saber dos bondosos...
Deus quer saber dos que o aceitam como Pai
Mas nunca nos pediu tal pessoalmente
Foram os Romanos que o criaram...

Esta é a verdade
Cabrões dos Romanos!
Por mais controlo que tivessem sobre a sua cidade...
Desculpem... estava distraído... IMPÉRIO!

Tinham fome por mais e mais!
Quantos foram mortos por ter razão?
E os que não tinham mas o foram por diversão?
Opá é verdade... o paneleiro do Estaline e do Hitler...

Mas foram eles!
Não fomos nós!
E acreditam numa coisa que foi doutrinada
Com recurso à violência?

O Estaline e o Hitler foram só cães de poder
Afinal que diferença têm eles dos vossos antepassados?
Os vossos antepassados também não acreditavam em nada...
Só no poder... na merda do poder!

Mas agora eu sento-me...
Calado...
Estou zangado...
Corrijo... furioso!

Eu quero que fiques furioso também!
Tu também podes ter razão
Usa a tua cabeça se tens uma...
Nunca digas sim nem não, antes de teres devido fundamento...

O domínio e o poder
É algo que esses homens atrás das cortinas
Irão sempre defender
E tu não te aperceberás

Eles vão querer tirar toda a parte da tua liberdade
E tu não vais protestar
Tu vais suplicar para que eles o façam
Mas não o poderias imaginar

Podes agora mas nem sabes metade da história
Os terroristas não são os pobres que vivem na podridão
Se bem sabes, se bem tens na memória
Como pode um homem pobre arranjar armas?

Os terroristas são quem tu pensas em quem podes confiar
A autoridade...
Apenas mais uma instituição
Para te ocultar a verdade...

O importante é não acreditar em nada sem fundamento
O importante é acreditar que tu existes
Que tu também podes ter razão
E que o importante é amar...

Esquece a ideia do homem de barbas no céu
Esquece a ideia de que a autoridade é em quem podes confiar
Confia no teu próprio poder
Tu também tens poder fodasse!

"Quando o poder de amar for mais forte que o amor pelo poder, a humanidade conhecerá paz" - Bill Hicks

sexta-feira, junho 11, 2010

Todos os caminhos vão dar à morte...

A cada passo que dás podes cair para 2 metros abaixo de terra. Mas o simples facto de estares quieto leva-te ao mesmo caminho. De qualquer das maneiras, por mais cauteloso/a que sejas não podes fugir àquilo a que estás condenando um dia, qualquer via por onde caminhes, não interessa onde vai dar, até pode dar a lado nenhum, e mesmo dando a lado nenhum, não te deixa de levar a um sítio, à proximidade da morte, e a verdade é que todos estamos igualmente expostos a morrer neste preciso momento.

Que se dane a sociedade...

“Não é demonstração de saúde ser bem ajustado a uma sociedade profundamente doente.” - Jiddu Krishnamurti

terça-feira, junho 08, 2010

O Fim de Tudo...

O Fim de Tudo...

Divagando na minha própria depressão
A um canto, ignoras a minha existência
E mesmo sem saberes
Marcas-me com o teu poderoso encanto

Sou eu que todos os dias
Contemplo tristemente o teu olhar
E a constituição subliminar da tua elegância
Que me faz chorar quase em vão, recordando-me da minha infância

Na minha obscura mente
Crio negros e perversos planos
De me ocultar no teu andar
Para te apanhar e obrigar-te, a amares-me eternamente

Não me contenho mais
Morro da febre da tua perfeição
Tu és um anjo e eu um demónio
Cairás na minha maldição

O céu está cinzento
E o meu coração também
Levar-te-ei para o holocausto dos meus desejos
Serás minha e mais ninguém

Mas tu não me dás prazer
Só aumentas a intensidade desta dor
Uma e outra vez
Sem ti quero estar sozinho, neste mundo sem cor

Quero mais que o teu corpo
Quero a tua alma
Quero os teus sentimentos
Quero as tuas emoções

Furto o teu beijo
Visto que cheguei até aqui
Para ter recordações doces
Da tua existência

Como te amo
Deixo-te ir...
Deixo-te livre...
Sem te ferir

Só espero algum dia te encontrar
Nem que não seja neste lugar
Que tão bem conheces
Mas tão melhor mereces

E agora sentado
Com um cotovelo no joelho
E a minha mão na minha face
Com a mão oposta coberta em sangue.

Sangue que corre do meu pulso
Com o qual escrevi que te amo na parede, lamentando-me...
E deixo-me esvair até morrer
Adeus...