terça-feira, dezembro 27, 2011

Sonhado, rasgado, eliminado...

Sonhado, rasgado, eliminado...

Rasga-se o peito exibindo o coração e pulmões
Que nunca viram no meu tempo de vida a luz do sol
Rastejam os vermes das melancolias e depressões
Saltando para para fora de forma lenta e mole
Fugindo à mais pura e eterna das paixões

Mas sobrevivo de peito aberto sem esconder emoções
Como pode a vida negar a eterna felicidade
Afastando-se de um passado infantil feito de ilusões
Que morreram com a infância num acto de maldade
E rasguei a garganta gritando por todas as razões

Por todas as razões que me fizeram crescer
Perceber que tudo o que criei perdeu significado
Porque ao crescer abre-se a cortina dum monstruoso ser
Uma besta quimérica, um criminoso glorificado
Visto como o protector da sociedade destruindo-a por prazer...
Fazendo com que o sonho que ainda não tens já esteja eliminado!


Mas eu que fujo do oásis estou salvo...
Porque perto do aglomerado de ignorantes
Mais facilmente serei um alvo...

quinta-feira, dezembro 15, 2011

O Mundo Incompreendido

O Mundo Incompreendido

Na mais modesta e pura de todas as felicidades
Caminhando pelas sombras e pelo seu conforto,
Sinto o fervor de ter a maior das autenticidades
Prometendo nunca mais me fazer sentir um peso morto;

Acordo cada dia com o objectivo de estima e preservação
Por tudo aquilo, tu, que eu sempre quis encontrar,
Alguns diriam um chuto de heroína sem terminação
E mesmo sem saber como é, garanto que não consegue nem perto lá chegar;

Um paraíso onde os humanos mais estúpidos e decadentes
Não conseguem atingir com o seu pútrido abalo,
Aí cheguei, onde habitam os mais plenos momentos
Um cenário a roçar no utópico, a verdade eu falo;

E os Reis do Hedonismo continuarão a atirar,
O que dizem valor para as donas dos varões
Julgando que assim eternamente irão provar,
Este outro mundo incompreendido, mas são ilusões...

Este outro mundo incompreendido, o melhor e esquecido
Por poucos encontrado, tão perfeito e doce de encontrar,
Sempre absolutamente renegado, até pelo porco mais ferido
Sem perceber que é o prazer esporádico, que o está a matar;

Tão melhor acompanhado pela amada luz da minha vida
A contemplar entre trocas de carinho o maravilhoso luar,
Do que com uma voluptuosa de falsidade mostrenga 1000 vezes lida
Que nunca soube e dificilmente saberá o que é amar;

Passeio sorridente neste outro mundo incompreendido
Sempre sereno e indiferente para com os que não querem perceber,
Entre as nébulas de verdadeiros sorrisos, que me deixam derretido
Assim feliz na órbita da minha estrela, eu vou permanecer.

quinta-feira, dezembro 08, 2011

Desenharam-me o caminho, tanto lhes devo

Desenharam-me o caminho, tanto lhes devo

Experimentei a queda que me pareceu eterna
Lambendo o pó do chão para tentar sobreviver,
Sangrando, inútil e esmagada cada perna
Só me fez recusar a sumbissão à morte e ver
Um paraíso tão longe tão perdido quanto eu,
Que a mesma devastação passou e não morreu;

Senti os pulmões apodrecer dentro de mim
A carne que me compõe toda ela um cancro,
O coração derretido batendo como no fim
Cada batimento uma lágrima que sangro;

Abençoado por usar o pretérito perfeito
2 almas deram-me o antídoto para o veneno,
O veneno da desilusão que me deixou desfeito
Arde o meu coração, como que banhado de benzeno,
De alegria, que como visão nocturna indica
Na mais escura noite, onde a minha plenitude fica!

terça-feira, novembro 29, 2011

Veneno da Realidade

Veneno da Realidade

O caminho de toda a carne tu segues!
A morrer, a enfraquecer e a apodrecer...
Numa vida, em que a felicidade persegues
Sem saber porque raio o estás fazer,

Copiando sensações que te aconselham
És iludido por um efémero prazer,
Objectos que ao teu espírito não se assemelham
Produtos de quem te ti não quer saber...

E vocês aí estão..,
"Na felicidade do gato e do cão"...

Na vossa plena degradante dança
Roçam-se no varão da imundície,
Rebeldes pretensiosos que como uma lança
Penetram a moral e o respeito,
Com egoísmo à superfície
Num falso e frágil leito,
Caminhando sem saber
Para a mais árida planície
Saberão um dia o que é sofrer!
Quando o veneno da realidade vos fizer doer!

quarta-feira, novembro 16, 2011

Não sou Nero...

Não sou Nero...

Sou Nero e o meu maior desejo é ver,
A minha cidade como se fosse uma vela
Reflectindo nos olhos do meu ser,
Uma chama furiosa, inspiradora e bela...

E durante um tempo de vida recorro à ameaça
Exibindo tal loucura que vos amedronta,
Tão cruel e lunática é a minha raça
Tão grande o meu poder que ninguém me confronta,

Mas eu Nero não sou... sou sim um típico mentiroso,
Que destrói esse futuro, que tu tão feliz traças
Um Imperador da era moderna, engravatado e asqueroso,
Bem-vindo ao mundo do controlo de massas!

E vejo-te temer a chama com pavor e desolação
Uma chama que ainda não foi largada, nem nunca o será,
É assim que te distraio da verdade da vida, e também da razão
Eu sou o Deus que não queres, e tão pouco te amará,
Que da tua fraqueza suga prazer, e de seguida em ti defecará!

Sou o maestro desta orquestra de crise bem ensaiada,
Que te apoquenta quando a mim me bem apraz
Enriqueço com a miséria da tua vida desvalorizada,
E consomes o que quero tão educado e voraz!

Não sou Nero... sou mais discreto...

sexta-feira, novembro 11, 2011

O Futuro é meu!

O Futuro é meu!

Decidir, o luxo dos aristocratas
Que comandam esta podre geração
Geração que aponta as decisões chatas
Mas desinteressados e sem motivação

Cai como a chuva a perspectiva
As gotas explodem no chão
Mais um como população "activa"
Os sonhos derramados, a desilusão

E a chuva parou mas as gotas caiem
Dos olhos dos que perderam o jogo
De cabeça em cinzas apenas saem
Do mundo, desvanecendo no fogo

Mas eu pego nas minhas lágrimas
Com um cálice de esperança
Ingerindo-as e conjurando rimas
"O futuro é meu!" o grito se lança

segunda-feira, outubro 31, 2011

Uma vida inteira morrendo... (Esperando a plenitude que há de vir)

Uma vida inteira morrendo... (Esperando a plenitude que há de vir)

Calado, calmo, sereno e morrendo...
Não quero ser o dono do universo,
Quero apenas chicotear o tempo
Por desejos inocentes um acto perverso;

Tal estátua clássica, contemplativo
Observo os segundos mórbidos a marchar,
Uma vida inteira com um medo primitivo
Que chegue a morte antes da plenitude encontrar;

Vagueio sozinho nas ruelas do narcisismo
Repouso estático num abrigo de modéstia,
Rangendo dentes nego com cólera o hedonismo
Vejo o sonho iluminar-me de uma réstia...

O tempo faz-me ver de longe tudo o que só o desejar alcança...
Não venham os Reis idiotas destruir-me isto tudo!
Já me rasgam alguns sonhos mas ainda tenho esperança...
E se arderem com a vida que quero, rancoroso, depressivo e mudo!

O suspirar acompanha-me quatro mãos cheias a cada dia...
Por meses gastos a morrer para ter o que eu sempre quis!
A orquestração malévola da sociedade me angustia...
Para o querer intenso de tanto querer ser feliz!



Germinam lágrimas ao imaginar ter o que quero na mão,
Não é chorar, é a não indiferença a que me submete ver perfeição...

segunda-feira, outubro 17, 2011

Ionização

Ionização

Preso na decomposição orgânica do nada
Em liberdade no vazio astronómico de tudo,
Ofuscado pelo brilho da sabedoria, essa espada
De que os miseráveis se defendem com ignorância, esse escudo;

Felizes aqueles que julgam ter as respostas
Convencidos de que nada mais há para ser sabido,
Tristes os que sabem que só têm amostras
De coisas que preferiam pensar não haver para ser conhecido;

Certezas ninguém as pode tomar por certas
Um oxímoro talvez mas talvez também sensato,
Uma geração informada com desinteressados alertas
Para a miséria que voa sobra nós, e eu intacto;

E eu intacto... relativamente vivo e são
Roboticamente comandado por quem tem o mundo,
Eles são o átomo e eu sou um electrão
E todos juntos moléculas instáveis
Formando um cancro neste planeta moribundo;

E não consigo compreender o meu lugar
Saltando de orbital em orbital,
Com a raiva e desejo de me querer ionizar
A crescer e contaminado pela a aceitação
De que sou apenas mais um comum mortal.

Mas sempre distante do núcleo,
Dos mutiladores do sonho.

sábado, outubro 08, 2011

Nestes dias defuntos...

Nestes dias defuntos...

Nestes dias defuntos
É só mais um passo que dou,
Por caminhos disjuntos
Questiono-me quem sou,
Sempre seguindo um trajecto
Que não é e nunca foi o meu,
Mas lamentos inúteis sou um objecto
De quem o mundo apodreceu;

Cegado por um indesejado clarão
O branco de todos os cenários,
O vazio dos dias nos calendários
Talvez melhores dias virão...

Nestes dias defuntos
É só mais um passo que dou,
Cabeça em complexos assuntos
Que disseram meus, mas quem eu sou?
Grito no poço do oblívio
Por um botão para avançar estes dias,
E suspirar de profundo alívio
Encontrar não mais agonias...

Preciso de um mapa para o labirinto
O labirinto da pura ilusão,
Mão de Deus que me esmaga o coração
É por isso que ainda vivo não minto...

É por isso que ainda estou perdido
É porque descobri a verdadeira saída,
Persigo a melodia para encontrar a minha vida
E decerto tirarei a bala que me deixou abatido,
Sorrindo para um astro que me guia
Para o teu sorriso que encontrarei um dia!

E até esse dia chegar,
Nébulas de sonho para contemplar.

quinta-feira, setembro 29, 2011

Efeito Sereia

Efeito Sereia

Nunca perversamente abordado
Porque quem jamais desejara,
Tão pouco gravemente chocado
Mas sorriso de besta jaz na sua cara;

Somente o gosto de rosas despetalar
Demasiado jovens para serem despidas,
Um prazer de nas mãos as esmagar
Sujando-as de escarlate e do fim de vidas;

Talvez à crueldade se entregou
Por um sonho que lhe proibiram,
Mais, uma sereia para quem navegou
E só ao embater num rochedo se viram;

Um monstro criado pela desilusão
A ilusão que descansa lânguida numa pauta,
7 ou 6 cordas agarram o seu coração
Pela nébula dos sonhos, um cosmonauta...

Não... não é nem nunca será um monstro...
Só mais um proletário para sobreviver,
Sodomizado pelos que fizeram o mundo
Caminhando de costas para o verbo morrer.

quinta-feira, setembro 22, 2011

Um fraco...

Um fraco...

Sinto a morte nas nozes dos meus dedos
Loucura que me assola para a libertar,
Raiva, uma descarga eléctrica sem medos
Ira, uma árvore cujo fruto é o seu esgar;

Uma colher tiro do boião da fúria
E uma pitada cuidada de forte ódio,
Desdém para com a inútil lamúria
Cuspindo em feridas cloreto de sódio;

Morte! Eu te liberto desta tua prisão!
Forço a tua jaula que embate no meu oponente,
Rasga-se a pele e tal águia voas então,
Caçando a tua presa tão elegante e vorazmente!

Sirvo com os punhos um refeição de cicuta
Paciência, uma bonita flor que morreu,
No seu funeral uma tragédia, tão abrupta
Mas o cadáver... o corpo... é o meu...

Olhei para mim, pele, ossos... morto...
Um fraco, os fracos não matam ninguém...

segunda-feira, setembro 12, 2011

Bandeira Vermelha

Bandeira Vermelha

Aí vêm as ondas violentamente
Como que zangadas e a gritar,
Engolindo toda a gente
Que no seu caminho se cruzar;

Cheio de ódio o mar destruindo
Com vigor, firmeza e vaidade,
Vejo a enorme falésia ruindo
E o ócio das pessoas da cidade;

Possuído de raiva vem o mar,
Que a um ataque de leões se assemelha
Sendo os descuidados a presa a caçar,
Ignorando uma ofuscante bandeira vermelha.

terça-feira, setembro 06, 2011

O Regresso do Frio

O Regresso do Frio

As noites deixaram de ser quentes
Para anunciar que o Outono está a chegar,
Vão embora os pássaros a cantarolar
Mas é doce o frio, não o sentes?

Uma percussão nos meus pés, as folhas caídas
"Já chegou!" exclamo com felicidade,
E imagino melodias bonitas cheias de suavidade
Enquanto caminho por entre as árvores despidas;

Curiosamente este ano maior o frio
O gelo da solidão em mim se derrete,
Pois vou tê-la por perto num dia de entre 7
Mais forte o frio mais forte eu sorrio;

Sinto saudades de vestir uma camisola pesada
O desespero de chegar a casa para me aquecer,
Pôr a conversa em dia com quem tanto quero ter
É no frio que estou bem, preferência errada?

terça-feira, agosto 30, 2011

Em Dezembro te espero...

Em Dezembro te espero...

Moribundo de tristeza caminho para o abismo
Em linha recta mantenho o passo tremulento,
O frio que sinto sem ti é-me um sismo
Vens parar-me e aquecer-me contudo o tempo é lento;

És o astro humano que derrete o gelo em meu redor
Leva-me numa curva para longe desta recta suicida,
Mostrando-me, fazendo-me ver e sentir amor
Dando cor à foto monocromática que resume a minha vida;

Vem em Dezembro ser a lareira do meu coração
Molécula formada por dois átomos, os nossos lábios,
Perdidos os dois nos vales da mais pura paixão
Algo incompreensível até para os mais sábios;

Vem mudar por favor para um acorde maior
Esta melodia obsoleta que não consigo cessar,
Rasga-me a pele da alma sabê-la de cor
O ritmo dá-lhe meu coração que contigo vai acelerar;

Pintaria apaixonadamente o teu retrato
Mas infelizmente não tenho esse talento,
Não deixas de ser a musa de cada verso que trato
Dezembro vem depressa ou de saudade rebento;

Um "espero por ti" resplandece neste verso
Oh tu, que és a Rainha do meu Universo...

segunda-feira, agosto 22, 2011

Maré de Sorte

Maré de Sorte

Caminhando à beira-mar em desolação
Surpreendido sou por uma onda forte,
Afogando-me já sem ar em nenhum pulmão
Vivo ainda à deriva numa maré de sorte;

Com escárnio olhei para tudo o que fiz
Duvidando do meu valor em tudo,
Mas diante do meu sobrepujante nariz
Vejo que nem todo o mundo ficou mudo;

O Mestre mandou-me então escrever
Numa vazia folha ao lado da sua,
Para conjurar um astro a nascer
Com a classe de um poeta de rua;

Foi o Mestre que me lançou a onda
Que puxou os meus versos para Norte,
Para os examinar com a sua sonda
E chamo-lhe pois uma Maré de Sorte;

Assim damos uma devida continuação
Abrindo o coração e borrando papel,
O que tão boa fama deu a esta nação
Ora sobre uma morgue ora sobre um bordel!

domingo, agosto 14, 2011

O Homem que tem o Mundo...

O Homem que tem o Mundo...

Existe um senhor tecelão de véus
Que veste o mundo com a sua criação,
E vê a nossa miséria dos céus
E goza a nossa superficial visão,
Que ele próprio nos ofereceu
Ocultando a verdade sobre tudo,
E em ganância seu poder cresceu
Loucamente sorridente e mudo;
O Homem que possui o mundo
O detentor de toda a verdade,
Não abre os braços nem por um segundo
Pois neles a tem presa uma miríade,
Uma miríade de coisas factuais
Que levariam o mundo ao caos e loucura
Assim não o revela ao comum dos mortais,
E ninguém sabe quem ele é e porque nos tortura;
A maioria nem sabe sequer que existe
E os que julgam que ele existe nem têm a certeza,
Mas salva o ignorante de se sentir triste,
E é o Rei sem que ninguém bajule a sua alteza;
Joga xadrez com a humanidade
Emprega muita dor e esporádico prazer,
Acaricia a mais verdadeira verdade
A única que mais ninguém irá saber.

terça-feira, agosto 02, 2011

Alucinação

Alucinação

Embrulhado em pânico e sonolência
Com um laçarote de desejo de morte,
Desconfortável com a quase total dormência
Ao que penso ser realidade perdi o Norte;

Despedaço-me num milhão de dimensões
Vejo o mundo real através de um buraco,
Dentro de uma esfera de sonhos sem razões
Procuro sair deste lugar hostil e opaco;

Sinto-me a ondular para o infinito
Repito um milhão de vezes um gesto que só fiz uma vez,
Descontroladamente com o nada me irrito
A garganta implora por água suficiente para um mês;

Cada minuto parece-me um ano febril
Tenho medo de me magoar mesmo sem nada sentir,
Sou sugado para a minha alucinação número mil
Esqueço tudo e deixo-me dormir;

Deixo-me dormir com o desejo de acordar em lucidez
Desejo concretizado relembro a experiência que a sei de cor,
Reflicto sobre a totalidade do real inúmera vez
Esta realidade é uma merda mas cheira melhor.

sexta-feira, julho 29, 2011

Utopia...

Utopia...

Nas cinzas de um mundo perdido
Vejo germinar a semente da utopia,
Onde amor deixa o ódio destruído
Onde padece o interlúdio de um perfeito dia;

O ser humano regurgita a cobra
Que envenena a compaixão de ganância,
Evolui do verme que putrefaz a sua obra
Esquece o falso profeta de amor, verdadeiro de ignorância;

Encontra-se então a porta para o puro
Um equilíbrio de instabilidade em tudo o que nos rodeia,
A luz no vácuo e no espírito mais escuro
Todos se amam e ninguém se odeia;

Porque ser cego não é não ver, é não encontrar a razão
Ser cego é encher de inútil fantasia, a realidade,
É colocar vermes dentro do peito sabendo que nos vão comer o coração
Endoidecer o mundo não é o objectivo da arte...

Utopia é dar o devido uso ao fantástico
Utopia é fazer justiça ao dizer: "Sou racional!"
Utopia é amor com um efeito de elástico,
Utopia é superar o Homem, ser quase mais que animal!

E sobretudo... a utopia é impossível...

quarta-feira, julho 27, 2011

Moldando o barro...

Moldando o barro...

A garrafa ou a a floresta
Para me esconder do pessimismo,
Insanidade ou a dignidade que me resta
A questão abala-me como um sismo;

Crescer ordenam-me a mim,
Mas como o astro vira supernova
Crescer é caminhar para o fim,
Uma lição ou uma valente sova?

Mas olho para o céu em filosofias,
E sinto chover o dilúvio da esperança,
Pego no barro sujo dos meus dias
E moldo o amor com que tudo se alcança;

Escolho então a saudável dignidade
Pois encontrei amar para o intermédio do astro que sou,
Escalo a montanha da felicidade
Subindo a corda que na ponta a motivação queimou.

segunda-feira, julho 25, 2011

Orquestra de Vento

Orquestra de Vento

Marca o ritmo para uma sinfonia outonal
O esmagar das folhas secas caídas,
Que vieram num precoce vendaval
De melodias perfeitas mas não lidas,

Não lidas porque não há nenhuma partitura
Para esta inspiradora orquestra de vento,
Que longas notas subtilmente segura
Num timbre melancólico e lento;

E dançam então as folhas rua abaixo
Respeitando compassos de pura beleza,
Onde não há violino, violoncelo ou contra-baixo
Só uma orquestra de vento na natureza.

terça-feira, julho 19, 2011

Suicídio...

Suicídio...

Gentis, por nossa culpa, caóticas tempestades!
Submetam os porcos Homens à vossa dança,
Façam-nos sentir bem perto o Reino de Hades!
Destruam o nosso pútrido sentimento de esperança...

Submetam-nos a essa tão, mas tão ridícula morte!
Que mísero suicídio, neste caso, é apenas...
Oh frutos da nossa imprudência tão, mas tão forte!
Nós que mutilámos este magnífico jardim de açucenas...

E ignoramos o grande Caos que, neste momento, já se desenlaça...
A vingança desta bela, mas tão bela a Terra!
Pois ao tentarmos, por ganância, roubar sua graça....
Com dor e desolação a nossa história se encerra!

segunda-feira, julho 18, 2011

Desilusão...

Desilusão...

Preso estava numa parede
Mas ao acordar espantado,
Com um pouco de fome e de sede
Reparei que fui libertado;

E vejo uma porta aberta outrora fechada
Resplandecendo para mim,
Será uma saída ou uma entrada
Para um novo mundo sem fim?

Há muitos anos que a minha alma está presa
Fruto de uma horrorosa alienação,
E vejo agora a fuga, a esperança acesa
Aguentará o meu fraco coração?

Vou devagar muito desconfiado
O que haverá para lá deste portão?
Mas vejo-me de novo agoniado,
Fechou-se a porta... mais uma desilusão.

segunda-feira, julho 11, 2011

O Sangue dos meus Heróis...

O Sangue dos meus Heróis

Cresci admirando o seu talento
Cresci admirando a sua bravura,
Sobre a chuva, sol e vento
Levando multidões à loucura.

Mas passa o tempo da sua glória
Abandonados eles são pela luz,
Esquecida é a sua história
Que para o fim se conduz.

E na sua morte são recordados
Seus fãs os choram em alvoroço,
Porque mortos todos são amados
Nem que esse amor não passe de um esboço.

Erguem-se estátuas no seu fim
E atingido é por 1000 sóis,
Secando e esquecido assim
O sangue dos meus heróis...

sexta-feira, julho 08, 2011

O Deus que eu sou...

O Deus que eu sou...

Eu sou a destruição e a fúria!
Eu sou o caos e a desordem!
A justificação da tua lamúria!
As mãos que te alimentam e te mordem!

Eu sou o teu eterno Salvador!
Que te mostra falsa piedade,
E sou o teu eterno castigador!
Castigando-te até à tua insanidade!

Presenteia-me com múltiplas orações!
Que me estimularão o meu ego,
Dando-me inúmeras doces tesões,
E risotas ao teu ser tão cego!

terça-feira, julho 05, 2011

Desejos reprimidos...

Desejos reprimidos...

Ao menor sinal de atracção
Sigo o meu desejo carnal,
Atraídos os meus lábios são
Tal íman atrai um metal;

E vejo-os nos seus lugares,
Emanando ondas de irritação
E eu surjo do fundo dos mares,
Rendendo-me às maravilhas da degolação!

E vejo as riquezas sem valor
Mas que sorriem para mim,
E num gesto de escasso pudor
Torno-as minhas! Enfim...

E vejo a carne resplandecente
Resplandecendo a sua graça,
Mastigo e degluto quase demente
Digerindo agora a sua caça!

sábado, junho 25, 2011

Ironia de Morrer

Ironia de Morrer

Morrer de sede
No meio do mar
Morrer de fome
Num colhido pomar

Morrer de frio no verão
Tentando dele fugir
Morrer de calor no Inverno
Ao tentar me cobrir

Sucumbindo à tristeza
Mas sem depressão
Morrer de tanto rir
Na desolação

quarta-feira, junho 15, 2011

Tu és a ilha...

Tu és a ilha...

Tu és a ilha que outrora rodeei,
Tu és a ilha de que tão perto estive,
De que tão perto estive mas ignorei
E agora lá longe o meu coração vive;

E remo arduamente para a ti chegar
Mas nem a força da mais pura paixão,
Me consegue fazer de ti aproximar
E vejo-me perto de desistir na frustração.

Mas na verdade eu sou o horrível
Que lá te deixei nessa solidão,
Sou o abominável egolatra terrível
Que esconde o seu mal pedindo perdão;

E perdi então a tua confiança,
E remo para te alcançar mas sem sucesso,
Mas não morta a minha esperança
Eu quero a tua mão isso eu confesso.

E apesar de só te ver afastar
Não prometendo se me deres a tua mão,
Com força a irei agarrar
Movido pela impulsividade da paixão.


Tu és a ilha... E a mais bela delas todas
Não digas que não...

sábado, junho 11, 2011

Sono

Sono

Em simbiose dormindo
Debaixo da asa da melancolia,
Toda a santa noite
Todo o santo dia;

Arrasto o corpo no quotidiano
Como um cadáver que vive,
Sinto-me a boiar num oceano
Mas tão em Terra nunca estive;

E as pálpebras a pesar
A não querer enfrentar o dia,
Em simbiose a dormitar
Debaixo da asa da melancolia;

A viver porque tem de ser
Procurando plenitude,
Em sofrimento e efémero prazer
Assim o mundo em negritude;

Invejo os pássaros que cantam
Fazendo assim face ao dia,
Batendo as asas em liberdade
E eu debaixo da asa da melancolia.

quinta-feira, junho 09, 2011

Vazio

Vazio

Refracta-se no prisma da vida
Uma overdose de sentimentos
De confusão a mente embebedida
Catarse forçada em alentos

Desespero e medo de perder
A querida vontade e o jeito
O tempo passa e nada a nascer
Nada a aparecer direito

Parte-se a corda da guitarra
Apodrece o fruto da árvore
A ideia no cérebro não se amarra
Cérebro esse agora de mármore

Sinto o vazio que estava na minha folha
Agora cheia de queixume mas com razão
Nesta garrafa de versos coloco a rolha
Mais um poema para a colecção

sábado, junho 04, 2011

Urtiga

Urtiga

Convidado para a mansão do sonho
Para num leito de rosas descansar
Mas lá dentro nada vi de risonho
Numa cama de urtigas tive de me deitar

E a resposta aos meus gritos de dor
Eram os ecos da má acústica da mansão
Reflectia-se num espelho imundo meu terror
E um ódio a quem me fez a invitação

Levanto-me devagar devido às urtigas
Pois o seu efeito faz-me de dor tremular
Tento escapar fazendo duas figas
Sigo a luz de um dia a acordar

Caio numa armadilha de profunda lama
Anos mais tarde fossilizado sou estudado
Não ouvisse eu uma voz maternal que me chama
Sem mais urtigas em meu redor sinto-me aliviado

Mas uma folha de urtiga enlanguesce no meu cabelo...

sexta-feira, maio 20, 2011

Dedicado à arte e aos artistas

Dedicado à arte e aos artistas

Não uma das mil pedras cintilantes!
Quero uma pedra negra e baça,
Rejeitadas e tão pouco abundantes
Aquela que me faz único numa raça;

Mas ninguém me a dá e eu sei porquê
É porque querem que eu sobreviva,
Recuso-me sobreviver à sua mercê
Que morra o corpo se a alma é viva.

Só quero a grafite para borrar uma folha
Com umas quantas lágrimas de poeta,
Quero notas musicais não as que recebe um trolha
E subir a árvore de maneira discreta;

E já no cimo da árvore gritar à humanidade
As minhas trovas que quero eternizar,
A única coisa que me dá pura felicidade
Procuro a pedra baça para ao topo chegar!

De que serve a vida se não a posso controlar?
Recuso-me a ser mais um domesticado cavalo!
Para vós pode ser feia mas eu cá vejo-a brilhar,
Eu quero ser Senhor de mim e não de outrem um vassalo!

sábado, maio 14, 2011

Ferida

Ferida

Vejo o caminho a acinzentar
E de repente nada, vazio,
Só o som do vento e do mar,
Da valsa das árvores e do rio.

Já não existe a imagem
Agora só o som e o cheiro,
Sentir a frescura da aragem
A humidade do nevoeiro.

Mas estou totalmente perdido
Na floresta procurando saída,
Caio ao chão aturdido
Fazendo tamanha ferida.

Lembro a árvore que dança
Onde me queria tanto abrigar,
Onde alguém pintara esperança
Onde do desespero me queria salvar;

Estava mesmo à minha frente
Mas perdi a noção do espaço,
A sua luz enganou-me a mente
Agora vejo tudo, mas baço;

Afinal não era cegueira
Mas sim uma lição,
Nasci para viver à beira
Da tirana depressão.

Não viesse a enorme ferida me salvar...

segunda-feira, maio 09, 2011

O Sono em Chamas

O Sono em Chamas

Descansando momentaneamente
No berço do doce silêncio,
Esperando fervorosamente
Sair daqui, desejo imenso.

Sinto o suor na minha testa
Um calor ardente se acercando,
Não fosse o fogo implantar festa,
Em redor de mim tudo queimando.

Fornecendo luz ao crepúsculo
Que caíra então naquela hora,
Desejava cada um de meu músculo
Desejava os beijar como quem namora.

E quando o medo me abraça
O fogo usa-o como álcool,
Mas sentindo esperança mesmo escassa
Afasta-se como na noite o sol.

Olhei pela janela e vi a beleza do mundo
Tanta beleza mesmo com a humanidade a sujar,
Não posso desperdiçar isto, penso no fundo
Pois mesmo sujo ainda há tanto para contemplar

É o meu medo, que torna cinza a madeira.
Não vou suportar que ele o faça, esta a noite inteira.

Então o medo esse ionizou-se
Levando-me a sobre o fogo saltar,
Nenhuma parte de mim queimou-se
E no berço do silêncio fui descansar.

E fez-se mais uma noite.

quarta-feira, maio 04, 2011

O Pescador

O Pescador

Um pescador no seu barco tão pobre
Espera o peixe que nada no mar e o goza,
Por não possuir ouro, prata ou sequer cobre
Apenas o desejo de uma refeição pouco ambiciosa .

E quando um peixe idiota o isco decide trincar
Lembrando o Novo Testamento e as obras do falso profeta,
Quis dividi-lo para a sua família esfomeada alimentar
Mas com escasso peixe ela jaz agora na eterna sesta.

Reclamou, portanto, uma onda para o levar
Mas não há Deus para as suas preces ouvir,
Não há Deus para essa onda lhe lançar,
E só a um mar surdo o pescador pode pedir.

Então o pescador deixou de pescar loucuras
Passando a pescar o que realmente precisava,
As mentiras podem ser uma tão rica doçura,
Mas quando mais doce a mentira mais se magoava

Expulsou da sua mente o ser superior não existente
Que fugiu como um peixe nadando com a corrente,
Conseguindo a aura de ser humano sem verme apodrecedor
Tornou-se iluminado afastando-se da luz ilusória,
Declarando a morte desse Deus fruto de escória
Tornou-se finalmente num Homem em esplendor.

terça-feira, abril 19, 2011

Naufrágio

Naufrágio

Em vão,
Esqueci-me do que aprendi todos estes anos
Em vão,
Esqueci-me de todos os rostos humanos.
Em vão,
Deixei até sombras de memórias desvanecerem
Em vão,
Não chorarei pelos meus queridos que morrerem.

Pois de maneira alguma os lembro,
Como a tarde solarenga de Novembro.

Feliz esqueço a tristeza
Triste esqueço a felicidade,
Loucura a minha alteza
Maluqueira, oh divindade!

Em vão,
Perde toda a graça o dançar da floresta,
Em vão,
Perco-me na solidão, única coisa que me resta.

Desaparece a memória
Agora apenas história,
Que o homem desconhece,
E no vento padece.

E o vento canta a história no oceano
Atraído pelo magnífico azul ciano
E jamais cantará p'ro ser humano,
Pois ao não perceber ficaria insano,
Tal curiosidade suscitam os cantos
Tão cheios de rancor e de prantos.

Desaparecem os navios que o oceano ousam cruzar
São as minhas memórias, as minhas memórias a os afundar.

(Parte o remo que tens na mão,
Salvaguarda o teu coração.)

sexta-feira, abril 15, 2011

Envelhecer

Envelhecer

Para escrever este poema:

Invoco o frio e o vento
Invoco o álcool que destrói,
Desinibidor do atrevimento,
Invoco o envelhecer que mata e mói.

O poema:

Que há para celebrar?
16ª volta ao sol desde mim,
Legalmente álcool comprar,
Felicidade mas não tão assim.

Esta nação não me alegra nada
Cheiro a putrefacção da mesma,
A sua recuperação um conto de fadas
E neste mundo sou mais uma lesma.

Lesma que deixa no mundo ranho
Não o suficiente para causar mossa,
(Mas em conjunto)
Destruindo um pouco do mundo que tenho,
Mundo que no limite já roça.

Querem me dar uma prenda?
Destruam o mundo de uma vez!
Ou recuperem-no e sejam lenda.

Vejo a sociedade perecer,
Vejo a cultura apodrecer,
Vejo a natureza morrer,
Vejo-me a envelhecer.

Ainda há algo para celebrar?
Um adolescente consumido pelo ódio!
Que outrora foi uma criança a jubilar!
Lesma em que deitam cloreto de sódio!

Só espero rir no fim..
Desta 16ª volta ao sol depois de mim.

segunda-feira, abril 11, 2011

Um beijo com a palma da mão

Um beijo com a palma da mão

Uma fúria que ascende
Um desejo que predomina,
Impelir dor que ofende
Uma resposta que se abomina.

Uma raiva incontrolável
Uma mão que se levanta,
Uma acção inegável,
Gota de suor se abrilhanta.

Suor do nervo da ira
Vontade incerta de magoar,
Onde razão nunca interfira
Para a paradoxo não chegar.

Caminho que a mão percorre
Um efémero ódio, mas ódio,
Uma paciência que morre,
Violência no pódio.

Um contacto rápido de pele
Carne contra carne e dor,
Um ardor na mão se impele,
Assim como na cara do opositor.

Satisfação e depois arrependimento
Objectivo cumprido infelizmente,
Um medo de resposta no pensamento
Um calafrio que se sente.

Ranger de dente
Arrependimento latente

segunda-feira, abril 04, 2011

Desvanece o electrão

Desvanece o electrão

E o vento irrompeu pela minha casa
Trazendo consigo a sombra da morte,
Os meus prospectos ardendo na brasa
Deixei-a entrar para a minha sorte.

Prospectos esses que não os acredito
Impele o negativismo pois então,
Por mais que o futuro esteja dito
Caiem as pétalas do meu coração.

Pinto o meu futuro de verde floresta
Para inspirar minhas tristes trovas,
E paixão de as fazer é o que me resta
O resto razões para cavar covas.

Talvez sejam só bloqueios do sonho
Devido a este núcleo negativo,
Núcleo negativo de que disponho
No pensar sempre... sempre activo...

Mas a esperança deixou cair seu véu,
Pondo jubilo no lugar de amargura,
Como nuvem que despe lua no céu
Levando canis lupus à loucura.

"A morte bateu-me à porta
E eu não a deixei entrar,
Foi a esperança a reclamar
Que não está... DE TODO MORTA!"

segunda-feira, março 28, 2011

O Lunático e o frio

O Lunático e o frio

Um Inverno poderoso e iminente
Uma floresta coberta de neve,
Todo o animal passeia indiferente
E eu espero a morte que me leve

Uma magnífica tocata de violino
Ecoa ainda na minha cabeça,
E oiço um fúnebre e forte sino
Até à morte que meu corpo arrefeça

Magnífica tocata que foi tocada
Não há muitas horas desde que então,
Neste triste heterocosmos dei chegada
E morro devagar até parar meu coração.

Um lunático sou, mente a melodia,
Que a mente para sempre me roubou
Pela sua graça de melancolia,
Morri mas o mundo não me chorou...

Mas a chuva decidiu cair ali,
Ainda havia a esperança,
A neve derreteu e fugi dali
Vendo as árvores e a sua dança.

segunda-feira, março 21, 2011

Bem-vinda Primavera...

Bem-vinda Primavera...

Calma, equilíbrio e harmonia
É o que compõe este equinócio
E um chilrear ao nascer do dia
Dos pássaros e o seu vitalício ócio

Um florescer de graça nos Jardins
Uma bela e cheia de vida natureza
A taciturnidade nos foge e seus afins
Alegria até em coração apodrecido é alteza

O porquê dessa alegria não compreendo
E nenhum ser humano decerto compreenderá
Se algum dia razão lhe apontei me emendo
Porque razão para ela não se encontrará

No meio de dois extremos vemos então
Na nossa vida incontáveis Primaveras
Gratuitas como pouca coisa nesta nação
Mas com ela esquecemos as gananciosas feras

Tão natural embora seja tão mágico
O esverdear da nossa há pouco fria nação
Mas espera-se o quente, cansativo e trágico
Que seca, queima tudo e lhe chamamos verão

Verão que dele só me interessa as peles
Semi-despidas das fêmeas tão belas
Que só se mostram numa estação tão reles
Mas a verdade é que não viveríamos sem elas

Mas o meu amor eterno está no Inverno
Um frio doce, delicado e tão inspirador
Todos o odeiam e lhe chamam o frio Inferno
Mas é nele que exponho melhor a minha dor

Primavera prima da estação do Outono
Ligados por serem ambos equinócios
Deixa os pássaros que nos despertam do sono
Cantar alegremente com os seus ócios...

Bem-vinda Primavera...

segunda-feira, março 14, 2011

Respirando tristeza...

Respirando tristeza...

Ela falou e o seu magnífico expirar
Levou-me a inspirar a sua tristeza,
Senti a sensação de quase espirrar,
Mas pelos olhos disso tenho certeza.

Congelei por um momento para evitar
Que ela visse a traição da minha emoção,
Era eu, pois, que tinha de a acalmar
Para o contrário era vaga a razão.

Seria se eu não passasse a explicar:
Ela vai partir para uma terra distante...
Onde a primeira onda decidiu rebentar,
Onde a atmosfera é beligerante.

Caí em mim então e estava sozinho,
Reparei que ela afinal não existia
Era uma espécie de barreira no meu caminho,
Na verdade, uma atmosfera que me seguia.

Tão má quanto aquela que me descreveu
Ou que julguei que me tinha descrevido,
Onde respiro o que também é tão teu
Não tivesse a tristeza me acolhido.

Assim respiro a tristeza, tão densa,
Que cria um cancro no meu fraco coração
Cuja dor que causa é mais que imensa,
Mais que física e totalmente sem razão.

Ou não será essa razão tu?
Oh fruto das minhas visões...
Fruto do meu transtorno.

segunda-feira, março 07, 2011

O Espirro

O Espirro

Milhões de bactérias descenderam,
Trazendo o espírito das trevas,
Com o mal se comprometeram
Para ser eternamente suas servas.

Infectaram todos à sua passagem
Para caírem na total depressão,
E anjos sentaram-se na margem
Dos mares da nossa aflição.

Trovaram variados incentivos,
Com belas melodias de harpa,
Para suicídios colectivos
Em qualquer poço, corda ou farpa.

E assim o triste mundo o fez,
Todos colocaram fim à sua vida,
Um, e por vezes dois de cada vez,
Assim a história foi lida.

Mas com todos mortos quem a leu?
Um velho moribundo à beira do mar,
Só Deus sabe o quanto ele sofreu
Sem membros para se poder matar...
Espera agora uma onda para o levar

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Ao novo acordo ortográfico

Ao novo acordo ortográfico

Desejo tomar uma acção
Com "c" antes da cedilha
E a quem o tirou, um ladrão
Violarei gloriosamente a filha

E enquanto os seios dela mordo
Com vingança no meu coração
Ignorarei orgulhosamente o acordo
Com o espírito dos poetas desta nação

Retiro-me agora para me dirigir então à pharmácia...
Sou o Luíz, um português e poeta de 15 anos
Meu nome escreve-se com "z" e lusitana é a minha raça
Pouco me interessa se considereis meus poemas profanos

Com o espírito dos poetas desta nação
Nem que a vingança seja apenas ignorar
Terei o puro português no meu coração


Luíz D'Andrade (Dominique Martinho)

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Maria-da-Manta e a fome dos lagos

Maria-da-Manta e a fome dos lagos

Maria-da-manta de olhos cruéis e tão flamejantes
Quanta fome saciaste desses milhentos lagos de amargura
Quanta criança magoaste com tua brilhante cornadura
Afogando-as nesses lagos e ouvindo seus gritos alarmantes

Serás assim tanto um mito, assim tanto um mito como te tomam
Oh tu, maldade que apoquentas crianças em histórias
Que permaneces na idade de inocência nas suas memórias
Esses seres que demonstram uma liberdade que tanto lhes roubam

Acordas as crianças que tão descansados dormem
Atraindo-as com o fogo dos teus olhos, esse símbolo
Da tua maldade culpada, dos pequenos que somem

Vês a sua cara de sofrimento, nesses lagos nefastos
Caso não seja de todo turva, mas cristalina a sua água
E ninguém de ti sabe pois és sublime, e não deixas quaisquer rastos

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

A Serenata Lunar

A Serenata Lunar

O cenário era adequado
Uma noite de lua cheia
Um vento bem atenuado
Ela no lugar de Dulcineia

Os seus cabelos eram da cor da treva
Do lugar onde antes me encontrava
Segui-lhe sem perguntar p'ronde me leva
Esquecendo o inferno em que estava

No entanto eu era um trovador do povo
E ela uma senhora de alta sociedade
Mas é mais forte a razão porque me movo
Desistir nunca... tal é a insanidade.

Cantei-lhe com uma voz bem treinada
Motivado pela minha profunda paixão
Só queria agradar à minha amada
Mostrar-lhe o que bombeava meu coração

Era Inverno e o frio reinava
Mas ela desceu e veio ter comigo
O seu cabelo doce me chicoteava
E congelamos os dois para castigo

Os dois congelados por uma infracção
A alta sociedade metida com o vulgo
Ela nunca me mostrou o seu coração
Mas sentia o mesmo que eu, julgo...

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

A ninfa da floresta

A ninfa da floresta

Estava preso a uma enorme árvore
Pela rudeza do aço de uma seta
E uma repentina aragem fria de mármore
Decidiu residir naquela floresta

Estranhara a aragem pois o dia não estava ventoso
Mas via um vulto correndo com algo na mão
Chamei por essa pessoa que me deixara curioso
Era uma jovem que diante de mim parou então

Uma autêntica ninfa da floresta com uma flauta de pã
Um corpo extremamente sensual que seduziria qualquer homem
Envergava umas vestes verdes e curtas e uma mala de lã
E começara uma melodia à medida que as minhas dores somem

"Quem és tu jovem que enche a minha alma de calor?"
Perguntei-lhe, nunca havia visto esta beldade
"Eu sou a dona desta floresta, meu senhor"
Disse-me ela... em tom de crueldade

Não percebi o tom de crueldade na sua voz
Até que vi um arco e 3 flechas onde deviam constar 4

sábado, fevereiro 05, 2011

Deus Eu Sou Chamado

Deus Eu Sou Chamado

Eu sou a tua mais indesejada dor
Sou toda a tua triste miséria
O teu mais profundo horror

Eu sou o cancro terminal
Culpado da tua indesejada calvície
Eu adianto o que te faz mortal

Eu entro em ti pelos poros da tua pele
Espalhando tanta agonizante dor
Como quantas meninas há num bordel

Eu sou a tua ferida que não sara
O ardor mais horrível que sentiste
O mais sincero esgar na tua cara

Eu sou a tua grande depressão
O teu infortúnio psicológico
O motivo da tua desmotivação

Eu sou a raiva e a cobiça
O ódio e o seu promovedor
Eu sou a tua corcunda que se iça

Eu sou os pesadelos que te não largam
A razão para teres medo de dormir
Todas as imaginações que se amargam

Eu sou aquele que vê o que fazes
E verifica se metes o pé na linha
Para te lançar um dia em fogos vorazes

Eu sou aquele para quem tu rezas
Na esperança de seres salvo
Em quem deixas inúteis promessas

Chama-me Deus mas eu sou a Malevolência
Setecentas e uma vezes disse que te odeio
Se não o entendes é tua a deficiência

terça-feira, fevereiro 01, 2011

A Preguiça e a Depressão

A Preguiça e a Depressão

Para a doce e gloriosa desgraça
Caminho em fervorosa marcha lenta
Para o infortúnio e total miséria
Esmagado por toda a sua massa

A dor desune as células do meu corpo
A desintegração é lenta e dolorosa
Estar morto deixou de ser um capricho
E passou a ser a mais intensa das necessidades

Enraivecido pelo sentimento de culpa
Tento coloca-lo furiosamente nos outros
O falhanço é recuperável embora difícil
E então renego-o orgulhosamente

Nos confins da depressão sem razão
Me enterro sem qualquer necessidade
Continuo nos meus queixumes egocêntricos
Tal a revolta do meu desentendimento

Este desentendimento comigo próprio
Na procura da inexistente razão
Para querer sempre mergulhar mais fundo
Mergulhar mais fundo em direcção à miséria

Tenho ouro, prata e até bronze
Mas para mim é tudo lata barata
A dor de alma rodeia-me impenetrável
Deixando-me sem ter para onde ir

Devia fazer algo que me desse honra
Mas prefiro não o fazer e encostar-me
Dizer que estou deprimido e em agonia
Esperar pelo fim repudiando o esforço

Para a desgraça!
Aqui vou eu!
Sem um justificável porquê...
Para a desgraça!
Aqui vou eu...

terça-feira, janeiro 18, 2011

O Início de Tudo/ A Mão

O Início de Tudo

E se no início de tudo, do que é do que era
Não tivesse explodido uma bola densa
Uma só esfera com todos os elementos
Todos os elementos numa só esfera...

E se no início de tudo tivesse havido um coração
Que explodiu violentamente pela razão
De ter demasiados sentimentos aprisionados
E que libertou inimaginável emoção

Sentimentos como amizade e dois átomos de estima
Em reacções emocionais intensas criaram amor
E a malevolência e o desprezo por outro lado
Formaram o ódio que aparentemente muitos anima

Tristeza, desespero e desmotivação
Criaram a depressão que tantos consome
E a depressão pentaentristecida
Formou a melancolia tóxica ao humano coração

Com equilíbrio e ternura numa de suas facetas
Formou-se uma estrela a que chamamos Sol
Que outrora era rodeado de poeiras de indiferença
Que hoje tal como o nosso são planetas

O nosso Planeta odiava com toda as suas forças Theia
Colidiu com ela possuído pela sua raiva
Os destroços de Theia formaram a Lua
E acidentalmente a Terra encontrou a sua Dulcineia

A Terra após encontrar calma
Atraiu uma atmosfera de equilíbrio
A Lua presenteou-a com rios e mares
E se formou um lar para criatura e alma

Desconhecia Terra as consequências de tal glória...



A Mão

Egoísta da nossa parte chamar a Terra de planeta nosso
Mas o egoísmo parece ser a razão da nossa existência
Somos espécie mais execrável imaginável
Mordemos a mão que nos alimenta, até ao osso...

Exigimos a submissão do próximo à nossa vontade
Sonhamos todos secretamente com o domínio
Abusamos desnecessariamente conscientes disso
Mordendo a mão que nos alimenta, sem piedade...

Mas por vezes ainda sabemos amar...
Mas o amor parece ser um elemento pouco abundante
Ou talvez poucos o conseguem respirar
Ou preferem simplesmente morder a mão até ela sangrar...

Por vezes sabemos tomar consciência
E fazer algo por merecer esta mão
Esta Terra... mas nunca é suficiente
E somos racionais diz a ciência...

Mordemos esta mão que nos alimenta...
Até um dia ela não nos querer alimentar mais
E deixar remorso em vez de alimento
Remorso em forma de uma catástrofe dolorosa e lenta...

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Relógio

Relógio

Cai no oblívio a tua verdadeira função
Ouço o teu sadicamente repetitivo TIC TAC
Um prazer para a minha audição...
E só espero que por o sentir ninguém me ataque

Contas o tempo até ao fim dos meus dias
E até ao fim dos meus dias te escutarei
Recordo o meu passado que tão atentamente lias
E lamento imenso se alguma vez te ignorei

Marcaste o primeiro segundo da minha vida
E começaste a contagem decrescente para o meu findar
Devia odiar-te por deixares a minha motivação perdida
Mas sento-me escutando-te até decidires parar

E se contaste o primeiro segundo da minha vida
E se ninguém se lembrar de te colocar na sua lista de saque
Contarás pois também o último sem ser interrompida
A tua sádica sonoridade: "Tic... tac.... tic... tac... tic... TAC!"

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Ao Ataque!

Ao Ataque!

Uma ténue visão do sol ao início da manhã no horizonte
Espada na mão isento de medos e isento de questões
No orgulho e na esperança a força tem a sua fonte
É hora de gritar... AO ATAQUE, CAMARADAS!!!

Há que ser rápido para o Sol não nos iluminar a espada!
Há que ser rápido para o Sol não nos eliminar a todos!
Há que ser rápido para atacarmos sem eles saberem de nada!
Há que ser rápido camaradas! HÁ QUE SER RÁPIDO!

E corremos com esperança em direcção à aldeia inimiga!
As lágrimas da ira e de desejada vingança atingem os que vão atrás!
Há que vingar o que nos roubaram e tão fortemente nos liga!
As nossas terras, os nossos montes, os nossos rios!...

Mas entretanto o Sol subiu e a luz nos desmascarou...

O alerta precedeu uma chuva de setas de pontas de aço
Os meus irmãos compatriotas foram desta para melhor
Sou atingido nas costas ao olhar para o nosso fracasso
Sinto sangue sair-me pela boca e gesticulo que isto não fica assim

No submundo nós lutaremos...
Há de ser feita vingança!
Nisso deposito pois
Toda a minha esperança!