segunda-feira, março 28, 2011

O Lunático e o frio

O Lunático e o frio

Um Inverno poderoso e iminente
Uma floresta coberta de neve,
Todo o animal passeia indiferente
E eu espero a morte que me leve

Uma magnífica tocata de violino
Ecoa ainda na minha cabeça,
E oiço um fúnebre e forte sino
Até à morte que meu corpo arrefeça

Magnífica tocata que foi tocada
Não há muitas horas desde que então,
Neste triste heterocosmos dei chegada
E morro devagar até parar meu coração.

Um lunático sou, mente a melodia,
Que a mente para sempre me roubou
Pela sua graça de melancolia,
Morri mas o mundo não me chorou...

Mas a chuva decidiu cair ali,
Ainda havia a esperança,
A neve derreteu e fugi dali
Vendo as árvores e a sua dança.

segunda-feira, março 21, 2011

Bem-vinda Primavera...

Bem-vinda Primavera...

Calma, equilíbrio e harmonia
É o que compõe este equinócio
E um chilrear ao nascer do dia
Dos pássaros e o seu vitalício ócio

Um florescer de graça nos Jardins
Uma bela e cheia de vida natureza
A taciturnidade nos foge e seus afins
Alegria até em coração apodrecido é alteza

O porquê dessa alegria não compreendo
E nenhum ser humano decerto compreenderá
Se algum dia razão lhe apontei me emendo
Porque razão para ela não se encontrará

No meio de dois extremos vemos então
Na nossa vida incontáveis Primaveras
Gratuitas como pouca coisa nesta nação
Mas com ela esquecemos as gananciosas feras

Tão natural embora seja tão mágico
O esverdear da nossa há pouco fria nação
Mas espera-se o quente, cansativo e trágico
Que seca, queima tudo e lhe chamamos verão

Verão que dele só me interessa as peles
Semi-despidas das fêmeas tão belas
Que só se mostram numa estação tão reles
Mas a verdade é que não viveríamos sem elas

Mas o meu amor eterno está no Inverno
Um frio doce, delicado e tão inspirador
Todos o odeiam e lhe chamam o frio Inferno
Mas é nele que exponho melhor a minha dor

Primavera prima da estação do Outono
Ligados por serem ambos equinócios
Deixa os pássaros que nos despertam do sono
Cantar alegremente com os seus ócios...

Bem-vinda Primavera...

segunda-feira, março 14, 2011

Respirando tristeza...

Respirando tristeza...

Ela falou e o seu magnífico expirar
Levou-me a inspirar a sua tristeza,
Senti a sensação de quase espirrar,
Mas pelos olhos disso tenho certeza.

Congelei por um momento para evitar
Que ela visse a traição da minha emoção,
Era eu, pois, que tinha de a acalmar
Para o contrário era vaga a razão.

Seria se eu não passasse a explicar:
Ela vai partir para uma terra distante...
Onde a primeira onda decidiu rebentar,
Onde a atmosfera é beligerante.

Caí em mim então e estava sozinho,
Reparei que ela afinal não existia
Era uma espécie de barreira no meu caminho,
Na verdade, uma atmosfera que me seguia.

Tão má quanto aquela que me descreveu
Ou que julguei que me tinha descrevido,
Onde respiro o que também é tão teu
Não tivesse a tristeza me acolhido.

Assim respiro a tristeza, tão densa,
Que cria um cancro no meu fraco coração
Cuja dor que causa é mais que imensa,
Mais que física e totalmente sem razão.

Ou não será essa razão tu?
Oh fruto das minhas visões...
Fruto do meu transtorno.

segunda-feira, março 07, 2011

O Espirro

O Espirro

Milhões de bactérias descenderam,
Trazendo o espírito das trevas,
Com o mal se comprometeram
Para ser eternamente suas servas.

Infectaram todos à sua passagem
Para caírem na total depressão,
E anjos sentaram-se na margem
Dos mares da nossa aflição.

Trovaram variados incentivos,
Com belas melodias de harpa,
Para suicídios colectivos
Em qualquer poço, corda ou farpa.

E assim o triste mundo o fez,
Todos colocaram fim à sua vida,
Um, e por vezes dois de cada vez,
Assim a história foi lida.

Mas com todos mortos quem a leu?
Um velho moribundo à beira do mar,
Só Deus sabe o quanto ele sofreu
Sem membros para se poder matar...
Espera agora uma onda para o levar