terça-feira, agosto 30, 2011

Em Dezembro te espero...

Em Dezembro te espero...

Moribundo de tristeza caminho para o abismo
Em linha recta mantenho o passo tremulento,
O frio que sinto sem ti é-me um sismo
Vens parar-me e aquecer-me contudo o tempo é lento;

És o astro humano que derrete o gelo em meu redor
Leva-me numa curva para longe desta recta suicida,
Mostrando-me, fazendo-me ver e sentir amor
Dando cor à foto monocromática que resume a minha vida;

Vem em Dezembro ser a lareira do meu coração
Molécula formada por dois átomos, os nossos lábios,
Perdidos os dois nos vales da mais pura paixão
Algo incompreensível até para os mais sábios;

Vem mudar por favor para um acorde maior
Esta melodia obsoleta que não consigo cessar,
Rasga-me a pele da alma sabê-la de cor
O ritmo dá-lhe meu coração que contigo vai acelerar;

Pintaria apaixonadamente o teu retrato
Mas infelizmente não tenho esse talento,
Não deixas de ser a musa de cada verso que trato
Dezembro vem depressa ou de saudade rebento;

Um "espero por ti" resplandece neste verso
Oh tu, que és a Rainha do meu Universo...

segunda-feira, agosto 22, 2011

Maré de Sorte

Maré de Sorte

Caminhando à beira-mar em desolação
Surpreendido sou por uma onda forte,
Afogando-me já sem ar em nenhum pulmão
Vivo ainda à deriva numa maré de sorte;

Com escárnio olhei para tudo o que fiz
Duvidando do meu valor em tudo,
Mas diante do meu sobrepujante nariz
Vejo que nem todo o mundo ficou mudo;

O Mestre mandou-me então escrever
Numa vazia folha ao lado da sua,
Para conjurar um astro a nascer
Com a classe de um poeta de rua;

Foi o Mestre que me lançou a onda
Que puxou os meus versos para Norte,
Para os examinar com a sua sonda
E chamo-lhe pois uma Maré de Sorte;

Assim damos uma devida continuação
Abrindo o coração e borrando papel,
O que tão boa fama deu a esta nação
Ora sobre uma morgue ora sobre um bordel!

domingo, agosto 14, 2011

O Homem que tem o Mundo...

O Homem que tem o Mundo...

Existe um senhor tecelão de véus
Que veste o mundo com a sua criação,
E vê a nossa miséria dos céus
E goza a nossa superficial visão,
Que ele próprio nos ofereceu
Ocultando a verdade sobre tudo,
E em ganância seu poder cresceu
Loucamente sorridente e mudo;
O Homem que possui o mundo
O detentor de toda a verdade,
Não abre os braços nem por um segundo
Pois neles a tem presa uma miríade,
Uma miríade de coisas factuais
Que levariam o mundo ao caos e loucura
Assim não o revela ao comum dos mortais,
E ninguém sabe quem ele é e porque nos tortura;
A maioria nem sabe sequer que existe
E os que julgam que ele existe nem têm a certeza,
Mas salva o ignorante de se sentir triste,
E é o Rei sem que ninguém bajule a sua alteza;
Joga xadrez com a humanidade
Emprega muita dor e esporádico prazer,
Acaricia a mais verdadeira verdade
A única que mais ninguém irá saber.

terça-feira, agosto 02, 2011

Alucinação

Alucinação

Embrulhado em pânico e sonolência
Com um laçarote de desejo de morte,
Desconfortável com a quase total dormência
Ao que penso ser realidade perdi o Norte;

Despedaço-me num milhão de dimensões
Vejo o mundo real através de um buraco,
Dentro de uma esfera de sonhos sem razões
Procuro sair deste lugar hostil e opaco;

Sinto-me a ondular para o infinito
Repito um milhão de vezes um gesto que só fiz uma vez,
Descontroladamente com o nada me irrito
A garganta implora por água suficiente para um mês;

Cada minuto parece-me um ano febril
Tenho medo de me magoar mesmo sem nada sentir,
Sou sugado para a minha alucinação número mil
Esqueço tudo e deixo-me dormir;

Deixo-me dormir com o desejo de acordar em lucidez
Desejo concretizado relembro a experiência que a sei de cor,
Reflicto sobre a totalidade do real inúmera vez
Esta realidade é uma merda mas cheira melhor.