segunda-feira, janeiro 30, 2012

Admite que é um Pântano...

Admite que é um Pântano

Admite, nós estamos presos
No mais tenebroso pântano,
Há os que fazem por sair ilesos
Outros gostam e cantam-no,

É um controlo para toda a vida
E só aqueles que tentam sair,
Sabem que não há qualquer saída
É o desespero, esse, a rir...

É aqui que todos querem ver
O sangue a fluir vindo de fora,
De onde estão aqueles a gemer
A sofrer ou sem esperar pela hora...

E metem esse sangue derramado
Num caldeirão preparando então,
Para o nosso povo deliciado
Uma nobre e repugnante refeição,

Porque só interessa quando há sangue
Admite mas não demasiado alto...
Não queiras que a mass media se zangue!
E te apunhale discretamente no asfalto!

E dão, claro, o teu corpo a todos...
Àqueles que simplesmente não te conhecem
Fazendo de ti parte dos engodos,
E até aos que te amam e desconhecem... uh...

Desconhecem que mais não comem
Senão o vício da sociedade,
Sem saber que é o cancro do Homem
Presente em todos sem distinção de idade,

Porque mal a criança tem vida
Já os doentes pais lhe passam a infecção,
A infecção vista, ouvida, lida
E já o vicío faz querer mais sem razão,

E todos amamos isto, admitam!
Ainda que digam sentir tanta pena,
A doença estimulada por um soslaio de perversão
Dá-vos prazer ao ver sangrenta cena,

E nós dizemos: "Que horror!"
E pensamos: "Antes ele que eu..."
E gritamos: "Acabem com o culpado estupor!"
E idealizamos: "Como esta notícia me enriqueceu..."

E enriqueceu porque agora tenho cultura
Digo, algo interessante para discutir,
Os habitantes do pântano, nesta vida dura
Escavamos a mina do mal para sorrir!

E porque é que não há quimioterapia?
Porque tão doce é o câncro que temos,
À procura da desgraça a cada dia
Na televisão ou no jornal que lemos,

"A cura para o vício do mal chegou!"
E viramos a página com tanta sede,
"Violou-a e de seguida a matou!"
E sorridentes temos um orgasmo na rede,

E presos na rede do pântano
Gememos nós com tanto prazer,
Uns querem sair outros cantam-no
E lá fora a sangrar para nós, uns a sofrer...

Dentro do pântano, com tanto lodo,
A maldade sincera se atenua
"Segurança" e degredo num todo,
Debaixo de cada sol e de cada lua!

Só uns nem estão fora nem dentro... uh...
Aqueles que fizeram este e o outro mundo além!
Tento saber quem são, mas com algo me desconcentro,
Um televisor que grita a miséria de alguém!

E eu nem quero nada disto...
Mas eu sei que tanto preciso
Para sentir que estou vivo ou que insisto,
Que sou algo contente com um sorriso!

Quando era criança recebi um brinquedo
Esse brinquedo foi um televisor,
Que também recebeu algo, e tenham medo
Foi o poder de me dar prazer partilhando horror...

Mas não fui um só
A consciência surgiu,
Desatou-se o nó
A máscara caiu,
E sabendo o que fizeram sem dó
A minha ilusão ruiu,
E irreconstruível está
Sou dono do câncro e da certeza,
Sabendo que a ferida nunca sarará
Porque desta pantanosa realeza,
Saída nunca se encontrará
Porque para lá deste muro,
Está a miséria que nos alimenta
E eu e todos os que sabem,
Preferiam ter-se mantido no escuro
E é hora de voltar para tradição sangrenta...


E porque não admitimos todos em conjunto!
Queremos sugar as informaçóes de mais um defunto!


"Ele sempre teve algo a dizer, teve a dizer... que nunca nada teve a dizer... na verdade que tinha a dizer, não sei bem que tinha dizer, algo a dizer tinha, nunca nada a dizer, sempre algo... mas o que interessa é que ele morreu, é o que interessa... agora suguem o que interessa meus vermes! Terá que durar uma semana... até arranjarmos outro sortudo..."

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Efeito Morte: O Piano de Cauda

Efeito Morte: O Piano de Cauda


Interlúdio da tua morte:

O piano de cauda do azar
Cai sobre o teu ser,
Com o intuito de matar
Sentes o efeito de morrer...

Um efeito tão veloz
Uma dor não sentida,
Sem tempo para colocar a voz
A tua alma já de partida...


Equipamento forense:

A câmara super-lenta
Que é propriedade da minha imaginação,
Descreve o quanto tenta
A tua terminação...


Análise do teu infortúnio microsegundo a microsegundo:

Então, sentes a madeira polida
Fria, caindo sobre a tua cabeça,
És derrubado pela sua caída
Sem esperar que mais aconteça,

Sentes a carne e ossada premida
Na rudeza do solo,
Percebes que chegou o fim da tua vida
Pedes que Deus te leve no seu colo,

Então, a carne foge para onde pode
Mas tu já nem dás conta,
Tarde, nunca houve tempo, ninguém te acode
Flashback, o passado se remonta...

O teu crânio cede...
Transmigração da alma!
Não tarda o corpo fede
Mas já não é teu, calma...

Agora só carne e ossada
Da forma mais melódica,
A tua estrutura esmagada
Fim da tua vida monocórdica,

Questão:

O fim de uma vida amada
Ou uma fuga há muito esperada?


A mitologia e a realidade:

Para onde o espírito vai?
Será que ele sequer existe
Mas já é tarde para perguntas, cessai
Acabem com os: "Deus porque assim decidiste?!"

Será Ouroborus verdade?
Mas afinal para quê crer,
Encara a realidade,
É algo que nunca se irá saber!


O que tu preferes neglenciar:

O efeito morte não é só teu,
Nem é só das criaturas
É deste mundo que tanto deu (roubámos)
Adoecemos isto e fracas são as curas...

Mas quem quer curar o mundo?
Amam ganância e riqueza,
Mas depois do efeito morte, isso tudo...
Qual o valor da realeza?


Conclusão indesejada:

Morre contemplando o mundo a morrer,
A morrer para a vida,
Porque que se o queres matar és o primeiro a perecer
Não tens poder, é outra coisa parecida...


Outro:

Que nem estupidez descreve bem...

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Alma Gémea

Alma Gémea

Quase sempre me senti sem a luz para poder ver
A felicidade que se deitava num quarto sem janela,
Quarto no qual eu estava também sem me mover
E eu tanto desejava uma janela para me atirar dela,
E desejava também que altitude fosse a suficiente
Para me libertar deste mundo que me parece tão deficiente;

Quase sempre me senti sem o calor para poder derreter
A felicidade que estava congelada num quarto sem porta,
Quarto no qual eu estava também, a viver para morrer
E tanto queria escapar deste lugar que me desconforta,
Desejando que para lá da porta encontrasse transporte
Que me transportasse deste mundo atropelando-me até à morte;

Descrevi no escuro mesmo sem ver o que escrevia
Toda a dor que esta solidão antes me trazia,
Felizmente acordei deste pesadelo de vida
Quando tu me apareceste para me sarar esta ferida!

Tu não me deste uma janela porque tu por ti já iluminas
E fizeste-me encontrar a tão doce, doce felicidade,
E sendo um astro irradiaste o calor, nem imaginas...
Mas removeste o gelo para que a tivesse para a eternidade!

Não me deste a porta para sair desse quarto maldito,
Tiraste-me de lá e ajudaste-me a destrui-lo!
Não me deste transporte para me matar mas para ir a um lugar bonito,
E agarrado a ti ficamos os dois a usufrui-lo!

Mas caiu do teu bolso um bilhete de regresso,
Um regresso que também não querias que acontecesse,
E para me despedir de ti, raios não me apresso!
Distância... que adamastor de bem-estar esse...

Mas do meu coração não sais nunca mais isso é facto
Porque completas o meu ser num encaixe exacto,
"Alma gémea" dá-me o prazer de eternamente te chamar,
Assim como de eternamente, tanto mas tanto te amar!

terça-feira, janeiro 10, 2012

Exaltação da Originalidade

Exaltação da Originalidade

Fazem a exaltação do valor do que dizem ser original
No auditório da profunda e pútrida hipocrisia,
Eles dizem saber o que está bem e o que está mal
Numa gigante ilha de palavras que eu nunca lia,

E quando eu li e dei conta do tamanho da ilha,
Dei conta que não era mais que um aterro no mar
Lixo de falsos valores, falsas intenções em pilha
E dei conta que crescia e parecia não findar;

E depois os profetas da originalidade gozaram
Os que não seguem a sua igualdade contraditória,
Que eles são os grandes mestres, eles relembraram
Eles são os messias desta época da história!

E eu ofendido pelo seu desgravável sacramento
Peguei num punhal e apontei-o para mim,
Digo o seu cabo, e procedi ao apunhalamento
Dos ociosos profetas lânguidos num jardim!

E todas as flores pareciam rosas vermelhas
Pois sangraram dolorosa e incontrolavelmente,
Banhado de sangue a todos te assemelhas
É uma nova moda "original", tão diferente...

Deixem os punhais fazer,
O que melhor fazem!

"Mantém-te original" é a frase da geração...
Que despreza a diferença indiferente!
"Mantém-te calado" é o que diz o meu coração,
O respeito é mais valioso do que um juízo que mente

Que apodreçam os cadáveres desses merdas no meio da rua!
Mas eu prefiro não matar esses mestres desgraçados
Preferiria fazê-los dizerem-se: "tu sabes que a culpa é tua..."
Depois de os deixar completamente acabados:

«Eles com os olhos cerrados
Para o sol os apontei
Agarrando as suas cabeças, preocupados
Que abrissem os olhos eu ordenei!
"ABRAM OS OLHOS!" fizeram-no alarmados»
E assim os cabrões e putas ceguei!
Nunca mais saberão o que é ser original!
Nunca mais saberão o que está bem ou mal!
Nunca mais poderão julgar!
Nunca mais poderão observar!
Nunca mais poderão maldizer!
Pois já só podem ver...
Os corações...

E a falta de noção,
De que são todos iguais,
Trascende a minha compreensão
E o desrespeito pelos demais,
Quando dizem estar carregados de tolerância;
Apenas faz revelar que só levam consigo ignorância...
E eu que não exalto a originalidade...
Porque não apupo a sua repreensível irmandade?

A resposta é demasiado arrogante para ser entendida...

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Eu devo...

Eu devo...

Eu devo aceitar inquestionavelmente
As ordens dos que estão acima de mim,
E dizem que sou igual a toda a gente
Será possível aceitar isso assim?

Tenho de aceitar isso assim claro,
Se quero ser alguém neste mundo
Ter uma vida de ser humano raro,
É coisa de de mendigo imundo

Eu devo consumir o que todos consomem
Para parecer melhor, para ser melhor,
Ser um modelo para todo o Homem
E se não gostar do que vejo em meu redor?

Se não gostar do vejo em meu redor
Sou um labrego com péssimo gosto,
Associam a mim matéria fecal e suor
A casa dos monstros é o meu posto;

Eu devo aceitar o que conta a História
Não questionar quando os ditos "factos",
Roçam no ridículo, ou então sou escória
Deixo os sábios com a sua sabedoria intactos...

Ou então sou humilhado pelo rebanho,
Eles são mais do que eu, que posso fazer?
Serei sempre o alienado e o estranho,
Que posso fazer? É calar e comer...

Eu devo aceitar que não posso criar
Isso é luxo dos que dizem que devo fazer,
Eu sou demasiado classe baixa para inventar
Podes não acreditar, mas vê para crer,

E se continuar a insistir em criar
Caio no mais profundo e negro oblívio.
Sem nunca sequer ter chegado a prosperar
Sobrevivendo insistência, devo respirar de alívio;

Mas se me perguntarem que acho que devo fazer,
Acho que devo agarrar num punhado de pedras
E atirá-las à cabeça dos que criaram as regras,
Haverão de saber essas gosmas o que é sofrer!