quarta-feira, novembro 27, 2013

Verdadeira Mentira, O Grande Delírio

Inalienavelmente verdade, a grande verdade
Estrutura óssea é esqueleto, maquinal de aço,
O diabo cuspiu mentiras lindas, e choveu na cidade
Mas a bondade reina, no mais hediondo terraço,
O capitalismo, o caminho, unha e carne com o progresso
Existem factos, totalmente, inquestionáveis,
A dúvida é a gruta mais fria a que tenho acesso
Tecelagem, novo sorriso, elites de plástico amáveis.

A guerra é providencial para o bem-estar
PIB, PIB per capita, poder de compra, IDH,
Com a indústria de armamento, que se foda amar
Dinheiro, novidade, maior controlo de massas não há!
É a tecnologia o progresso, a ciência o caminho!
Revelada em flatulências, como pura distracção
BIP BIP! BIP BIP! Vroom! Dzzzt! Zás! De volta ao ninho!
Finda o período laboral, e não há tempo para a sensação.

Geração digital, actualizar, pedido de ajuda dissimulado,
O orgulho, cala o grito, fecho-me nesta jaula de ser quem sou
Revolução, bandeira vermelha, leve, leve, estou cansado,
Irónico, sarcástico, até zangado, com o louco que ousou
Sou peão, o meu vizinho é peão, odeio quem não o é!
Porque este óleo, na minha estrutura, é um raio de uma droga
Mas sou homem de virtudes, acredito que tenho fé!
Num insatisfatório capital que sadicamente me afoga.
Jamais de pé me irás ver!
A lei não deixa,
Num livro difícil de compreender
Em tons dourados e de ameixa.

Submisso, cresço estúpido, instruo-me idiota, trabalho palerma, morro otário!
Apodreço infeliz na vastidão de um obituário.
Estes elementos que nos unem estão mesmo aqui?
Acredita que sim, porque assim o li...
Textos extensos, fizeram-se teses com fontes...
Fontes que tinham fontes aos montes...
Fontes essas já sem fundamento...
Mas está feito o trabalho...
Bem, bem, bem...
Escasseamos em alimento...
Não temos tomates, vendemos a dignidade a retalho
Mandam-te subir o cordão umbilical, de volta para o ventre da mãe.

A verdadeira mentira, é de que há verdade!
Vejamos, corrupção na caridade,
E crença nos partidos do ódio
Eleva-se a mais ilustre estupidez ao pódio,
Democracia = Arte Circense
Bicarbonato de sódio!
Fermenta a morte da minha esperança...
E por mais que pense
Só me sinto criança,
Uma infantil bondade
Envenenada num doloroso vislumbre da obra da humanidade!

É tudo uma mentira...
Crença, descrença...
Só se vê a diferença
Mergulhado na ilusão imensa
E já está na minha mira
E já instalei o telescópio
A fragmentação em dois
Devido ao lixo orgânico "vivo", pois
Delirantes no mais imaginativo ópio
Vomitariam perante as declarações triunfais
Que destrunfariam todas as mãos e levariam à indignação
São trufas quando pensavam ser cogumelos
São blasfemos profanos heréticos, quando pensavam ser singelos
Porque esfregaram-se frenéticamente sob a maior benção
Porque viram avanço social na égide do interesse
Porque esperavam ao deglutir a hóstia que nada vos doesse
Porque julgam existir.

E há aquele rumo inflamatório de pensamento
Que é negro e ninguém quer uma lanterna
Antes ignorante e desatento
Antes a ofuscação eterna
Bombardeamento da possibilidade
Foge, acredita que existes, és alguém
Sacode o fumo que emana da tua identidade
Silencia a hipótese de que não és ninguém
O mundo é tal e qual como diz a tua percepção,
Ainda que nada assegure que não passas de uma imaginação.

Eu digo que é tudo mentira, mais um dia,
É endeusamento do fútil com laivos de misantropia.

sexta-feira, novembro 01, 2013

Ensino Democrático

Prepara-se na escola
Como num auto de fé,
Um inferno de esmola
Uma escravatura até,
Em que mesmo para obter
O título de escravo,
É preciso tamanho sofrer
Pagando cada centavo,
Uma avaliação constante
Competir, ser o melhor,
Secundarizar o aprender
É PRECISO SOFRER!
Para alguém poder "ser"
Coisa alguma,
Mesmo não deixando de ser!
Coisa nenhuma.
É um terror injustificado
Sonhos são feitos migalhas
O injusto glorficado
Vêm-se desejos, alcançam-se acendalhas.
Somos um número sem valor!
E isso é tudo o que valemos,
Cospem-nos furiosos sem pudor
As únicas saídas que temos,
Empurrando-nos para um tapete rolante
Que chia com o seu rolar,
A que ninguém faz frente
Incessante e a filtrar,
A sociedade como maquinaria
E é uma excentricidade,
Olhar em demasia
Para a Hu-ma-ni-da-de!

O ambiente é ofegante, é de de peso,
Impingem o medo distanciando-nos com um "você" em tom de tirania
"Pode ficar para sempre aqui preso!"
Falam-nos como se nem houvesse democra...
Sabem que mais, esqueçam...

Democracia tem pássaros cantando à sua volta
Democracia tem anjos que tocam majestosamente as suas harpas,
Democracia tem um riacho onde dançam lindas carpas
A democracia tem até santos liderando a sua escolta.
Pois eu digo que se enxotem os pássaros!
Que se enforquem os anjos!
Que se assem as carpas!
E que se exterminem os santos!
Democracia é um conceito que aceitamos sem questionar!
Quem é a "demo" e onde fica a "cracia"?
E para podermos algo mudar!
Só mesmo esperar o dia
Em que alteremos a nossa limitada e estúpida maneira de pensar!

Democracia é: UM TRONO DE MADEIRA APODRECIDA! É O QUE É!

quarta-feira, outubro 16, 2013

Hino do Vagabundo

Ócio aparente
Cheiro a calçada,
Mija a montante
O cão da fidalgada,
A chuva eleva o cheiro
A boca calada,
A mão pede dinheiro
E recebe apenas nada,
De vultos ossudos
Que vivem precários,
Submissos e mudos
Com míseros salários,
Mesmas oportunidades
A mais podre ilusão,
E não é a liberdade
Que faz bater o coração,
Com laissez-faire e má vontade
Le bourgeoisie lidera,
E sem a luta pela igualdade
Definhará a nossa Era,
Maior a indigência
A civilização em decadência,
E se existe criador
Lhe digo com toda a aversão,
Que aprecie a minha dor
E a do resto da nação!

segunda-feira, setembro 30, 2013

Social Obituário

De rastos irado neste chão
No betão imune miro o portão,
Epitáfios extensos da razão
É ilusão toda a compaixão,
Marcham aqui por pena
Lamentando a la puta madalena
E até lágrimas têm dinheiro,
Até lágrimas têm interesse
Corrupto o mundo inteiro,
E que o mundo se fodesse
Esmigalham mais no martelo-pilão,
E vendem a uma qualquer dimensão.

Palavras fracas e braços podres
Demagogia sem respeito,
Enchem-se os odres
Vaza-se o peito
Saem da jaula de calças na mão,
Salário e silêncio sem coração
Escravatura mental sem logística,
Congregação empresarial
Nebulosa e mística
Escapa o elefante rosa em vendaval,
E decreta-se rebuçado social
Colocam-se cremalheiras na boca do povo,
Nos cântaros da esperança as ventosas
O burguês de ouro o homem-polvo,
Sob as condições mais horrorosas
Adquirindo tudo o que o tentáculo agarra,
Inópia do povo, e é mais uma farra.

domingo, setembro 08, 2013

Olhos para fechar

Ladeado de campos de trigo
Silenciosa foice colada na mão,
Suor, não mais humano e não
Saber mais como ainda consigo,

Numa bizarra submissão
Humilhante sobrevivência,
Justiça tem ambivalência
Advoga a quem não tem coração,

E ainda exaustos nos gaseiam
Viver serve para temer,
Ser infeliz e não poder escolher
Pensar é o que mais odeiam,

Quem pode rudemente escarra
Quem não pode é aniquilado,
Quem se atreve desesperado
Toca em escala menor a guitarra,

O mundo está corrompido
Devorado pela ganância,
Cornucópia para extravagância
E tão mal distribuída,

E não vêm, não ouvem, não falam
Humanos nesta geração digital,
Conectados à moda do capital
Desconectando-se e nem se ralam,

Humanos sem mais humanidade
Perdidos na graça material e banal,
Acreditam habitar uma aldeia global
Mas é uma extensa e imunda cidade,

E nos anúncios sorriem, é a manipulação
Seguem um pátio colorido para a desolação,
Fecharam-se sem grades numa grotesca prisão
E mirando a podre realidade, uma desilusão.

quarta-feira, agosto 14, 2013

Hino de um Acordar

Um oceano revolto de desespero
A lamentação vulgar deambulante,
Trono sem reino onde impero
Combustível exasperante;

Canalização oxidada onde nada corre
Obliteração do meu destino,
Tudo dança sem vontade até que morre
E por mais que toquem o sino,
Perco-me numa estrada sem saídas,
Levo o encargo dentro de mim
Enquanto me rasgo e saro feridas
Um beijo na alma lá no fim,
A verdade então desaba,
Que até o fim acaba.


Colho segundos de prazer
Em milénios de sofrimento,
A garganta nada tem a dizer
Rasga-se de dor neste desalento,
Tanto um homem tem que esperar
Atravessar os obstáculos mais inúteis,
Plebeu num mundo de já escasso pulsar
Ajoelhar perante os que se ajoelham mais fúteis,
Sobreviver comum,
Ser só mais um.
Ser...?

O espírito esmorece
Neste urbano desencanto,
A ilusão que padece
Na qual eu louco canto
Renego capital e materialismo,
Sou profano adorador do metafísico
Odeio entidades falsas e aproveito-me do simbolismo,
Sou apaixonado e o meu coração está tísico...
Estou rodeado de um mundo colorido...
Que cai em mim sem cor alguma!
Onde todos em fila acreditam no seu santo preferido,
E EU ACREDITO EM COISA NENHUMA!

quinta-feira, agosto 01, 2013

Enquanto o amor arder...

Enquanto o amor arder
Meu sangue ardente,
Com vida vividamente
Voraz haverá de correr,

Enquanto o amor arder
Lealdade será única lei,
Sobre a ordem cuspirei
Se é necessário para te ter,

Enquanto o amor arder
Desejo-te espiritualmente,
Almejo-te carnalmente
Aguentarei todo o sofrer,

Enquanto o amor arder
Tuas carícias armadura,
Beijos, espada rasgando amargura
E só por ti hei de combater,

Enquanto o amor arder
Só nos teus olhos vejo mulher,
E derrubarei tudo o que vier
Se esta paixão me forcem conter,

E se o amor não mais arder
Recusares a minha mão,
E expulsares-me do teu coração
Eu não poderei mais eu ser.

terça-feira, julho 16, 2013

Morte da Decência

Um moderno ritual animal, uma dança
Fotografa natural lubrificante,
Suplicar digital de um lança
Digita gemido oco insignificante,
Emporcalha caixa de carne humana
Que guarda memórias de suor e calor,
Mas lembrará quando não insana
Cada mente sem qualquer pudor?
Olvida o obsoleto...´
E então...
Perdendo a razão,
Insiste na procura do amor incerto...

Divulgação do pessoal
Uma lágrima pelo direito,
Traído pela sordidez colossal
Faz-se República sem respeito,
Acéfala incompreensão dos dedos
Que apontam enojados sem dó,
Esquece que esqueceu medos
Quando com esses dedos tocou-se só,
Num beco de um solipsismo de ilusão
É um produto grotesco maquinal,
Puta numa meretriz multidão
Um deprimente declínio cultural,
Canções de estandarde podre regurgitam
Frequências manipuladoras incitam,
E escacham as pernas em incontinência
Induzo certamente a morte certa da decência.

sábado, julho 13, 2013

Duas Semanas de Cessar Fogo

Rumo ao Norte
Quase alucino,
Doce destino
Gozo a sorte;

Deixo tudo
Faço-me curdo,
Sou cego, surdo
E mudo;

Cancelo o físico
Que não se digne a servir,
De modo a poder sentir
Tu, cuja ausência me põe tísico,

Tusso de dor
Desidrato lacrimejando,
Especturação sufocando
Adoece sentir amor.

Tão distante
Numa serra,
Que se encerra
Nunca obstante,

A civilização
A onda,
Interfere na minha sonda
Para ver o teu coração,

E quando cavo para passar
Abro-te o peito,
Sem preceito
Para o teu coração apreciar,

Sem dor, sem sangue, sem corte
Sou cirurgião espiritual num abraço,
Revelo também sem embaraço
Paixão que resiste até a morte,

Sem dor, sem sangue, sem anestesia
Sou cirurgião espiritual num beijo,
Que com sofreguidão desejo
E suplico todo dia;

Esqueci oceanos de pensamento em vão
O meu ser conheceu um cessar fogo,
Arsenal arrumado como sempre rogo
De dor que me avassala a uma condenação,

Tive a tua distracção
Que na incerteza da minha existência,
Na possível dimensão de desconhecida demência
Tu serias a melhor alucinação;

Larguei o que é material
A origem do meu mal,
Fiz do mundo apenas tu e eu
Um planeta profundo, meu,

Pelo tempo rasgado
Que na sua liberdade,
Sem piedade
Tortura-me malvado,

Não queria largar a pureza
Mas a obrigação pôs-me na estrada,
A minha arbitrariedade é questionada
Lavado em lágrimas, coberto de incerteza,

Sou como besta em transporte de gado
Não tenho mãos para ficar,
As mãos que só te querem tocar
Vêm invisíveis grilhetas serem o seu fado,

E é frustrante
Como rodeado de fartura,
A minha alma só se atura
No verosímil instante...
Em que estás perto...

Regresso,
Morro,
Jorro,
De rojo,
Em excesso,
Choro abatido,
Alvejado dorido,
De volta ao sufoco...
A saudade...
O esperar...
O fim...

sábado, junho 29, 2013

Conto de Encantar/Enganar

No sangue lento serpenteia
Jazigo de tamanha incerteza,
Fastio numa envenenada ceia
Ilusão de inópia de riqueza,
Semblante roxo de sufoco
Desejo ardente de corpo,
Ecoa o crânio que é ôco
Rejeição odiosa num sopro,
A perfeição eu usurpo
Num divã de falsa memória,
Que arduamente deturpo
Perante a bruma da história,
Sacralidade do secreto
Num manto ritualístico,
Fractura exposta num feto
De impudor nojo eucarístico,
Reverbera a paixão
Numa tentativa do místico,
Desmascarar em inconclusão,
Porque o sincero desejo
Minar a felicidade humana,
Na procura do teu beijo
Pereça na ignorância insana,
Pois na incerteza de existir
Se viver é alucinar
Que alucine a resistir,
À força dos cultos e contos de enganar,
Num sentir de querer algo carnal
Em apreciação da verosímil realidade
Num respeito que é quase canibal
Tomo-te na tua tez clara em rejeição de qualquer outra verdade,
Respeitando um único culto nesta dimensão
Que é cuidar das mãos onde guardei o meu coração.

domingo, junho 16, 2013

Ódio a Deus

Acéfala crença divina
Arruína a minha história,
A humilhação cretina
Atrocidade, a glória,
Odeio o criador
Trono de imundície,
Falso eterno amor
Ornamentos de tortura
Vómito vem à superfície,
Acreditar pelo terror.

Aprender a temer Deus
Em palavras manipuladoras,
Catedrais são os liceus
Formam almas pecadoras,
Leccionam o bem, mal
E causam-me nojo,
Numa hipocrisia carnal
Aceito a hóstia
Peregrino de rojo,
E mastigo-a como um animal.

Apodrece no meu estômago ateu
A meretriz eucarístia,
Que ao tragar infame me doeu
Pois quanto mais me iluminava,
Mais eu desistia
Porque a sinapse correcta
Lustrosamente me mostrava,
Que se existe o Grande
É para ser odiado!
Porque em reivindicações
De carícias na glande,
Não vejo prostrado
Em sumptuosas instituições,
A felicidade e a esperança
E não é a cegueira
Porque à minha beira,
Num suplício passo de dança,
Vejo o sofrimento a persistir
Deus é para ser odiado enquanto eu existir.

quarta-feira, junho 05, 2013

Receptor de Projécteis

Despedaçado nos solos da Normandia
Conheço silêncio após o caos sonoro
E quanto mais ruído de artilharia
Mais pelo cessar da guerra eu imploro
Posição errada no campo de batalha
Olhos beligerantes postos em mim
Arsenal manuseado cujo som atrapalha
Orquestrando o meu inglorioso fim
E numa ingrata fracção de segundo
A intenção maldosa do lado oposto
Faz a bala cravejar tão profundo
Porque é que deixei o meu posto?
E o metal frio que a máquina fez projéctil
Torna-se quente expondo meu sangue
A minha “coragem” de soldado foi inútil
Imagens aparecem em efeito bumerangue
As mãos onde nasceu o arremesso
São o triste consumar da minha morte
E sinto tão pesado e tão espesso
O meu infortúnio a minha sorte
E quando o meu corpo então cede
E conhece o chão onde se pousa
Uma infame mina como que pede
O meu cadáver que jamais repousa
E tendo sido ainda capaz de ouvir
Para culminar num estrondoso horror
Os pedaços do meu corpo a fluir
Livremente pelo espaço em redor
Como tão livres são feitos os mercados
Controlados pela burguesia com as suas putas
Que fazem de nós meninos de recados
Cujo serviço é fatal nestas lutas
Porque neste planeta nada mais importa
Do que a protecção do liberalismo económico
Que tão cruelmente e insensível exorta
Batalhões varridos a ritmo supersónico
E não há Deus aqui que me ajude
Tudo é um profundo e negro sono
Como nunca tive e que nesta bruma alude
À conquista de um indisputável trono
Que nem os capitais podem recuperar
Que me putrefaça em paz sem corrupção
A minha morte ninguém pode privatizar
Neste mundo morrendo sem compaixão
Estrume orgânico é a minha dimensão
Química complexa sou só mais uma baixa
Consciência, alma é tudo uma ilusão
E no meu funeral o general recebe a sua faixa.

terça-feira, maio 28, 2013

Marcha Hedónica

Um mundo corrompido, pelo mal e pela falsa inocência
Onde corrompida é, a realização pela realização
Da origem da corrupção, que emprega por excelência
Nas mais raquíticas camadas, a mais potente danação
O Divino lança veneno, em sua duvidosa existência
Num bizarro tão obtuso, que hipnotizante instiuição
Celebra-o proprietário do trono global, em magnificência
Sumptuosidade e bondade, que se esculpe em enredos de violação
Violação das suas próprias leis, em invólucros de prazer
Prazer violador, que age tão animalisticamente
Cai por terra a honestidade, e os bons valores
E tão enojado, em hesitações de regurgitação iminente
Choco-me por tamanha acidez de sabores
Escandalizo-me pela passeata vulgar, isenta de pudores
Força motriz de viver, é cópula e opiáceo
É tudo puramente físico, nem poeticamente metafísico numa pocilga de horrores
Onde é reduzido e desvalorizado, um obsoleto rácio
Entre a satisfação e a dignidade, jamais revisionados os seus meios
Porque neste mundo corrompido, a auto-humilhação é o feto
Numa gestação de sensações éfemeras, mãos que sustentam seios
Bocas que albergam falos, num pobre, podre e nojento dialecto
Sórdidas gentes marcham aviltantes, numa manifestação hedónica
Desiludidos em falsas desilusões, escondendo erótico amuleto
Desenham numa tela frágil, prospectos de fragmentação supersónica
Porque sofrer dói demasiado, e é substituído em vícios de forma irónica
E eu mirando a realidade, ponho olhos de predador em cianeto
Porque não suporto afogar-me, nestas heras humanas imundas
Tão superficiais e plásticas, julgando-se maquinaria complexa
Em verborreias estandardizadas, em repetições tidas profundas
E neste ritmo sôfrego de decepção, que em mim se anexa
Sinto cólera, fúria e ira, que mal consigo dissimular
E abafando traços filantrópicos, da utopia que habita em mim
Divinalmente tenho pretensões, de caos e sangue fazer prosperar
E apreciando o cravejar de epitáfios, ver a paz e a inocência. Fim.

quinta-feira, maio 23, 2013

Seja frívolo, seja poético, não te amar, seria herético

Num frenesim de emoções
A plenitude e o prazer,
Exigem tamanho sofrer
Que atingem os nossos corações;

De igual forma sangram
Jorrando lágrimas lentas,
Escorrem tão cinzentas
Espíritos que se amam;

Que se amam tão distantes
Com narizes que os separam,
Infortúnios nos distanciaram
Lágrimas paralelas de amantes;

Que transcende o carnal
Ultrapassa a estupidez,
E que morra pela tua tez
Desejo sentir até ao final;

O final em que preferia
Não morrer, como a nossa história,
Imortal por tamanha glória
Que impinge doce supremacia;

Que disparemos em uníssono
Este velho arsenal de guerra,
Que sobre a distância da nossa terra
Cala a dor em amor dulcíssono;

Que te amo exceda a ordem e a lei
Que nenhuma regra limite,
Este coração que ardente emite
O que eternamente sentirei;

Perco-me por ti, minha luz, insano
Seja frívolo, pela tua encantadora brancura,
Seja poético, pela tua apaixonante alma de doçura
Que nesta enorme loucura, só sei pois que te amo...

terça-feira, maio 21, 2013

Trincheira Civil

Dolorosamente plebeus cantando
Com os trinados mais aviltantes
São suínos hinos que vão exaltando
A morte dos meus semelhantes
São impactos incontestáveis
De bombas sem audição
Que ensurdecem incontáveis
Num planeta sem compaixão
É a clonagem, a manipulação
De máquinas de matar industriais
Que distribuem o pânico pela nação
Voz de líderes, sofisticados animais
Sobre os quais escarro a podridão
Que com escárnio e cólera acumulo
Ao ver pintado de escarlate o chão
Num objectivo que é tão nulo
Porque nenhuma vida ceifada
Encontra na sua morte justifição
Só satisfeita a vontade de corporação desalmada
Que deveria ser barbaricamente esmagada
Aos pés de um popular e irado pelotão.

sábado, maio 11, 2013

Linha de Montagem II

Dissolvo-me na conjuntura de oxidação
O cancro veio marchar sobre a metrópole,
O patronato demanda a liquidação
Lobos devoram-me na sacralidade da acrópole,
Que é a minha dignidade perdida
Para a sincronização de movimentos,
O fumo, o chiar, o óleo, faço-me vapor numa vida
Escarlate tétrico domina-me os pensamentos,
Os meus dedos furiosamente incham
Brotando fogo e ódio iminente,
Sobre as quimeras feitiços lançam
Num mundo onde a magia é indiferente,
É um Deus que olha para nós lamentando
Num trono jamais humilde e tão oco,
Uma criação cruel e inútil contemplando
Enquanto lentamente me faço louco,
Ressonância de sofrimento ao cessar do dia
As máquinas produzem dor a cada aurora,
E a tabuleta de indicações que lia outrora
Cravou em mim a sua obsoleta informação,
E eu caloso, ferido e queimado nesta indústria furtiva
Num pelotão de mortos-vivos disparo sobre a locomotiva,
Que feita de aço não sofre, já a minha paixão
A minha paixão é atirada para de baixo de,
Desconheço para baixo de onde, dissolve-se de tanta poluição
Talvez debaixo destas máquinas a não ser que,
A linha de montagem a tenha confundido com uma porca
Perdida entre peças de um produto sem alma alguma,
E patrulhando entre o cianeto e a forca
Deambulo trôpego e mudo numa noite de bruma,
A terra é a danação de uma alma e eu já perdi o Norte
Nestes arsenais de desespero, espero apenas a minha morte,
E sou depositado num contentor de lixo orgânico
Onde no meio de nauseantes cheiros, o silêncio soa-me oceânico.
O Fim.



P.s.:
Um pé de cabra na roldana
Uma obstrucção na engrenagem,
Salvem-me esta gente insana
Destruam-me a linha de montagem.

quinta-feira, maio 02, 2013

Linha de Montagem

O complexo mecânico velozmente traz as peças
Como suínos desventrados em ganchos para a plebe
Sem alma, estandardizadas e às centenas imersas
Nas minhas sujas e proletárias mãos onde se concebe
O novo produto a baixo preço de alta qualidade
Que cria fartura à conta da minha humilhação
Sou não mais humano ao ritmo de uma canção
Cantada em chiares e impactos no núcleo da cidade
O ritmo demoníaco desta maquinaria pesada
Sou levado à exaustão porque eu de facto sou nada
Apenas uma desalmada e fútil roda numa engrenagem
Fácil e friamente, inescrupulosamente substituível
Numa essencial, cega mas vital, cadeia de produção
Onde eu por mais que queira não me promovo além de pajem
O reles escudeiro de uma indústria complexa e indescritível
As minhas acções deixaram sequer de ser deliberadas
São repetidas maquinalmente, programadas, digitadas
O meu cogitar é dispensado, é desinfectado de mim
E o meu interior é uma caldeira, sangue esse... só há carvão
É a hulha incandescente cujo vapor faz bater o meu coração
Observo o oxidar da minha estrutura, enferrujarei até ao meu fim
Numa marcha de funções operárias, colérica e tuberculosa a minha imagem
Perdido no ritmo desumano da locomoção
Desta nefasta linha de montagem...

terça-feira, abril 23, 2013

A Estrada

Pele fere em direcção ao horizonte
Asfalto queima mas é rudeza agridoce
Divã enlasguence, a estrada faz bisonte
Deserto com um fim, o prazer inoculou-se
Na simplicidade do regressar
Filosofia descansa e fermenta a criação
E na superior aventura de novo me largar
À estrada poeirenta que parece a minha danação
É monótona, é o meu lago mercenário
Pois afogo-me no prazer de ruídos inéditos
Numa marcha de carácter revolucionário
A alucinação não pára até nos ambientes mais fétidos
O gás, o fumo, os resíduos que passeiam
São as únicas barreiras ao atravessar de mim
Que mesmo com ódio a estes alcatrões que não se asseiam
Na estrada, no seu deserto lá ao fundo a melodia e a reverberação. Fim.

terça-feira, abril 16, 2013

Ruína

O germe é substância essencial
Circula como parte de existir,
É natureza, é vapor celestial
Activa a hélice que ao ferir,
Rasga o ventre que sem memória
É a ruína que me albergou outrora,
Morreu doce e frágil glória
E deambulo em pungente hora,
Envelhecimento da minha massa
Maturação fez-me conhecer,
Antibiótico para a desgraça
Que faz desmoronar este ser,
Sede de ser astro que explode
Conhecer alívio às frustrações,
Colide comigo num impacto que comove
Os dois supernova num rebentar de emoções,
O oblívio da ruína que exerce como meu advogado
A minha sombra num tribunal corrompido pelo azar,
Uma sentença injusta que jamais me deixa sossegado
Cerca-me de desilusões e vê-te difícil de alcançar,
Oblitera pronfundamente a minha identidade
Que és tu que a nutres com a tua habilidade.

terça-feira, abril 09, 2013

Química Complexa, Nenhum Valor

A maquinaria barulhenta, enoja e ensurdece,
Pinta invisivelmente austeras fronteiras
Distinguem num ridículo que permanece,
Dogma que abafado no estalar das caldeiras
Magnifica a diferença entre vassalo e suserano
Que na sua soberana e nobre sabedoria,
Olvida a sua reles condição de ser humano
Afogado em pútrida e desinteressada filosofia,
Que enaltece os excessos da civilização
Estruturando uma utopia a uma elite iluminada,
Deixando o homem besta à arbitrariedade da danação
Pois resmas de conhecimento não passam de côdeas
Ora por desinteresse ou estupidez não escavam o miolo,
A luz da superfície encandeia a origem hominídea
A mais presumível verdade causa desconsolo,
Respeito mútuo deve ser uma máxima
Verosimilmente nenhum de nós tem qualquer valor,
Não passamos de moléculas instáveis muito próximas
Que nos condenam a uma existência que para meu horror
Não nos permite qualquer dignificante escolha,
Pois já a complexa química que em nós circula
Condiciona a fruta que da árvore das decisões eu colha
Mas feudatários modernos em reflexão nula,
Insistem que é o ventre que me cagou neste mundo
Que determina o valor da minha existência
Quando cagados aqui todos fomos, isso é rotundo,
Nada devemos a ninguém, essa lei é uma ilusão
Imperialmente farta num divã de demência,
Uma exigência mascarada de solicitação
Fezes redigidas pela puta da civilização,
Que no seu exercício de puta suborna-nos para lavrar
No seu quintal de luxo que nada tem para nos dar,
Consideram o apogeu desta nauseante Era
O valor individual no qual se erguem imundas corporações,
As estradas são de macadame nos nossos corações
"Igualdade" é a canção que quanto mais repetida menos sincera,
Admitamos e marchemos ao som de um poderoso hino
O fim do "valor", essa mentira, que eu com raiva abomino!

domingo, março 31, 2013

Sofisticar e Confundir: Imaturidade

Fruta verde mas já obliterada
Exibindo uma ilusória doçura prematura,
Desilude-se numa peripécia encantadora mas errada
Uma dentada que num momento de loucura,
Foi sentimento sim, mas de pouca dura,
Sentiu-se tão deliciosa e desejada
Acariciando o paladar de cães esfomeados
Que num mundo grotesco se vêm atiçados
Ao ver brilhante fruta insípida
Ou tal conseguido de modo industrial,
E para fugir à inscrição na mais nefasta lápida
Num mundo corrompido seguem a avenida do mal,
Confundidos pelo sofisticado e causando confusão
Julgando ter encontrado o alimento de uma vida,
Ambrósia, que ela própria procura ser bebida,
Mas desprezada pela sua imaturidade encontra a desilusão
Julgando ter encontrado o semi-deus mais perfeito
Encontra antes o seu infortúnio e em toda a sua raça vê defeito
E ainda que a dentada dos cães lhe seja venenosa
O vício faz-lhe puta numa sociedade tenebrosa.

sexta-feira, março 22, 2013

Marchando ao ritmo da Colisão de Lágrimas

Numa cerrada noite de intensa precipitação
O eu melancólico é a criatura que vive no mar
Que no fim de um estímulo perfeito à emoção
Vê camufladas as lágrimas num dia a terminar
O impacto é dissimulado pela chuva em realeza
Como lacrimejar no oceano que se torna invisível
Não que as criaturas aí não sintam tristeza
Do mesmo modo que os tristes sentem indelével
A angústia de ver a cura para a sua mágoa partir
Ver chegar novos dias onde lágrimas irão cair
Marchar ao ritmo da sua impiedosa colisão
Com a esperança de que não tenha sido em vão
Sentir tanto amor, e sofrer tanto por isso
Mesmo sendo tão feliz, porque até a melancolia
Obriga a um certo positivismo e vejo-me submisso
À inevitabilidade de voltar aonde pertenço um dia...
A ti...

sábado, março 09, 2013

Se Tenho Coração, É Teu

Ondas de imaculadas sensações
Quando se saboreia algo tão delicioso
Outras percepções são desilusões
Capta-se herege e pecaminoso
É uma vergonha viver no suficiente
É embaraçoso quando os olhos fecham
É humilhante sentir deficiente
A terra onde os meus pés flamejam
Levei década e meia a encontrar o caminho
É uma vergonha não conseguir passar
Com um fantasma de ética a assombrar
A decisão de não me ver tão sozinho
Na qualidade do que é físico
Quando um saboreia tão alto
Qualquer outra peripécia o deixa tísico
A monumentalidade o induz ao salto
Mas a esperança acorrenta-lhe os pés
Após ténues visões de mundos escarlate
Que se tornam cinzentos ao invés
Na melancolia que ainda que não me mate
Pinta-me painéis de desespero
Na indubitável verdade de que te amo
Que delicia mas rasga não é exagero
E nestes doridos momentos eu declamo
Porque saboreei e vi tons de perfeição
Nos olhos e em todo o teu semblante
E me vejo na posição mais humilhante
De ter que caminhar a terra sem emoção
Porque se eu porventura tenho um coração
Que se faça amorfa matéria
E que se molde nas tuas mãos
Porque não suporto mais a miséria
De não estar nas tuas mãos
De não tocar as tuas mãos
De não ver as tuas mãos...
Gasto-o em ti...


sexta-feira, março 08, 2013

Marchando ao Ruído da Indústria

A maquinaria barulhenta perturba
Produção massiva sem emoção alguma,
Iludindo vulgo à espera que o consuma
Manipuladora publicidade deveras absurda
Exalta o gasto e a felicidade material,
Engana vorazmente uma massa humana abissal;

Itens imensos cuspidos mecanicamente
Graça da doentia maquinofactura,
Velocidade nauseante induz à loucura
Gerando gás e fumo poluindo incessantemente
Lucro vale a destruição do planeta,
Prostituindo ruína corporação proxeneta;

Mecânica que quase parece intermitente
Mas não é só máquina é também o Homem a sofrer,
Chicoteado no atalho do acto de sobreviver
Direitos Humanos, uma ilusão iminente
Que até a sobrevivência tem de ser merecida,
População faminta rasteja, a inópia é encarecida;

Fastio de observar a máquina a vapor
Automação, programação, lavagem cerebral,
Ossos são os braços da locomotiva do mal
Músculos são força de um frívolo motor,
Metrópole de almas vazias e indiferentes
Manejam a máquina que mutila o aço,
E mutila a esperança de jamais vivermos carentes
De uma utopia dissipada que só em sonhos abraço...
Escutando profecias de inverosímil progresso
Momentaneamente voo mas logo regresso...

Infelizmente regresso
Marchando ao som da Indústria,
Encadeado pelo metal
Nauseado pelos gases,
Enojado pelos óleos
Numa depressão mecânica...

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Serena morte, temida morte

Nenhum homem pode desafiar
Este leito de despreocupação,
Onde o silêncio pode pousar
Onde não bate nenhum coração,
Lágrimas poderão ter caído
Mas olhos fechados não podem ver,
Ouvidos defuntos não escutam ruído
Numa poltrona deixado a apodrecer,
Não há santidade mais pura
Que a do cadáver tão morto,
Tão distante, tão absorto
Que a ideia me causa loucura,
Nesta vida que pouco dura
Admirando a serenidade do fim,
Temo de morte, a morte de mim.

Infantilmente sonho com a eternidade
Mas já o fiz também com a escravatura da cidade...
E desiludo-me com a inevitabilidade
De ser peça de uma engrenagem de lugubridade...
E uma carne que segue o tal caminho
No qual deambulo nunca sozinho
E talvez me doa mais perder
De quem dependo como se fosse ópio
Do que perder em insano sofrer
A mim... a mim próprio
Que em verdade só posso partir
Quando a saída desta floresta eu descobrir...

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Tecelã de Felicidade

Nau melancólica para terras desconfortáveis
Vem, partimos, só nós os dois agora
Ou que permaneça eu nos teus domínios amáveis
Porque tarda em chegar a nossa hora?
O vento que sopra dos pulmões do oceano
Leva-me as lágrimas e leva-me de ti, leva-me embora
Mas não leva o meu coração insano
Insano por ti, é um vulcão que já não suporta
Magma em forma de emoções difíceis de segurar
Que não desvanecem por nada até que a minha última célula esteja morta
É difícil viver sem um sabor de ti e quando te vejo a vontade é de te devorar
Não me leves a mal se não sou bem como mereces
Mas não consigo curar este caos de paixão que sinto por ti
Sem sinal de que estás ao meu lado a minha alma esmorece
E por ti e só por ti, me atrevo a viver assim
Enlouquecido numa jaula de um mundo tão injusto e imperfeito
Até ter a força para partir cada viga de aço
E contigo poder desenhar o mundo como ele deve ser feito
Renascer, sentir verdadeira vida, vivendo no teu abraço
Vestir até morrer a felicidade que só tu podes criar
E retribuir com tudo do melhor que eu te possa dar

terça-feira, janeiro 29, 2013

Brilho Artificial

Um vórtice de almas perdidas
Olhos de cristal cegados
Luzes que extorquem vidas
Ilusão dos sentidos, vêm-se iluminados
Perplexos miram o excremento
Divertidos, atentos de forma irracional
Exibem comportamento cada vez mais sedento
Amparados na graça de um pérfido brilho artificial
Sentem-se felizes...
Julgando efémero o que deve ser eterno
Consternam sem reflectir
Amar é obsoleto...

sexta-feira, janeiro 18, 2013

Carrasco

Febril odioso, por atalhos de carmesim,
O sangue de quem perfidamente
Traçou rota diante de mim,

Ecoa da garganta do oblívio, a execução aviltante,
E eu na minha passada cerimonial
Celebro a morte do meu semelhante,

Lembrando aço que rasga a carne, com todo o prazer,
E como poderei eu olvidar
Cada olhar do seu padecer,

A cada aurora recordo sonhos, em que oiço os seus prantos,
O meu descanso é o meu inferno
Quando a sua agonia na memória me embala,
São vultos de tenebrosos cantos
É sede e dor omnipresente
Fastio de vingança iminente...
E entrego-lhes o epitáfio do seu Deus
Quando nada os acode num último adeus.

sexta-feira, janeiro 04, 2013

Tempo

O tempo navega sem conhecer obstáculos
Ignorando quem traz e quem leva
Sem emoção assiste a todos os espectáculos
Da vida que insignificância conserva
Quando o ser se entrega à sinceridade
E reflexiona o valor da sua existência
Reflexiona-se a si mesmo num espelho de opacidade
Que reflecte nada mais que a demência
Daqueles que vêm o seu caminho perder o pavimento
E descalços lá caminham num chão rude
Num lento e desinteressado movimento
Sem esperança que a vida algum dia mude
Até encontrarem um astro cujas mãos
Peguem no cristal danificado do seu peito
E consiga o polir deixando os insanos sãos
Para que possam provar uma realidade sem defeito
Para que o mundo de sonho não permaneça sonho
E ceifem a mágoa sem que a ideia do tempo os fira
Pois ele caminha cego e surdo num medo que eu disponho
Perdido e temendo a morte que nos tem na sua mira
E se só não sinto a toda hora o suspirar da sua indiferença
É porque tenho o escudo do meu astro
E se por vezes temo a minha natural sentença
É porque no sentimento da saudade me arrasto...
Me arrasto...
Me arrasto...
Como o tempo se arrasta de sepulcro a sepulcro...