terça-feira, janeiro 29, 2013

Brilho Artificial

Um vórtice de almas perdidas
Olhos de cristal cegados
Luzes que extorquem vidas
Ilusão dos sentidos, vêm-se iluminados
Perplexos miram o excremento
Divertidos, atentos de forma irracional
Exibem comportamento cada vez mais sedento
Amparados na graça de um pérfido brilho artificial
Sentem-se felizes...
Julgando efémero o que deve ser eterno
Consternam sem reflectir
Amar é obsoleto...

sexta-feira, janeiro 18, 2013

Carrasco

Febril odioso, por atalhos de carmesim,
O sangue de quem perfidamente
Traçou rota diante de mim,

Ecoa da garganta do oblívio, a execução aviltante,
E eu na minha passada cerimonial
Celebro a morte do meu semelhante,

Lembrando aço que rasga a carne, com todo o prazer,
E como poderei eu olvidar
Cada olhar do seu padecer,

A cada aurora recordo sonhos, em que oiço os seus prantos,
O meu descanso é o meu inferno
Quando a sua agonia na memória me embala,
São vultos de tenebrosos cantos
É sede e dor omnipresente
Fastio de vingança iminente...
E entrego-lhes o epitáfio do seu Deus
Quando nada os acode num último adeus.

sexta-feira, janeiro 04, 2013

Tempo

O tempo navega sem conhecer obstáculos
Ignorando quem traz e quem leva
Sem emoção assiste a todos os espectáculos
Da vida que insignificância conserva
Quando o ser se entrega à sinceridade
E reflexiona o valor da sua existência
Reflexiona-se a si mesmo num espelho de opacidade
Que reflecte nada mais que a demência
Daqueles que vêm o seu caminho perder o pavimento
E descalços lá caminham num chão rude
Num lento e desinteressado movimento
Sem esperança que a vida algum dia mude
Até encontrarem um astro cujas mãos
Peguem no cristal danificado do seu peito
E consiga o polir deixando os insanos sãos
Para que possam provar uma realidade sem defeito
Para que o mundo de sonho não permaneça sonho
E ceifem a mágoa sem que a ideia do tempo os fira
Pois ele caminha cego e surdo num medo que eu disponho
Perdido e temendo a morte que nos tem na sua mira
E se só não sinto a toda hora o suspirar da sua indiferença
É porque tenho o escudo do meu astro
E se por vezes temo a minha natural sentença
É porque no sentimento da saudade me arrasto...
Me arrasto...
Me arrasto...
Como o tempo se arrasta de sepulcro a sepulcro...