domingo, março 31, 2013

Sofisticar e Confundir: Imaturidade

Fruta verde mas já obliterada
Exibindo uma ilusória doçura prematura,
Desilude-se numa peripécia encantadora mas errada
Uma dentada que num momento de loucura,
Foi sentimento sim, mas de pouca dura,
Sentiu-se tão deliciosa e desejada
Acariciando o paladar de cães esfomeados
Que num mundo grotesco se vêm atiçados
Ao ver brilhante fruta insípida
Ou tal conseguido de modo industrial,
E para fugir à inscrição na mais nefasta lápida
Num mundo corrompido seguem a avenida do mal,
Confundidos pelo sofisticado e causando confusão
Julgando ter encontrado o alimento de uma vida,
Ambrósia, que ela própria procura ser bebida,
Mas desprezada pela sua imaturidade encontra a desilusão
Julgando ter encontrado o semi-deus mais perfeito
Encontra antes o seu infortúnio e em toda a sua raça vê defeito
E ainda que a dentada dos cães lhe seja venenosa
O vício faz-lhe puta numa sociedade tenebrosa.

sexta-feira, março 22, 2013

Marchando ao ritmo da Colisão de Lágrimas

Numa cerrada noite de intensa precipitação
O eu melancólico é a criatura que vive no mar
Que no fim de um estímulo perfeito à emoção
Vê camufladas as lágrimas num dia a terminar
O impacto é dissimulado pela chuva em realeza
Como lacrimejar no oceano que se torna invisível
Não que as criaturas aí não sintam tristeza
Do mesmo modo que os tristes sentem indelével
A angústia de ver a cura para a sua mágoa partir
Ver chegar novos dias onde lágrimas irão cair
Marchar ao ritmo da sua impiedosa colisão
Com a esperança de que não tenha sido em vão
Sentir tanto amor, e sofrer tanto por isso
Mesmo sendo tão feliz, porque até a melancolia
Obriga a um certo positivismo e vejo-me submisso
À inevitabilidade de voltar aonde pertenço um dia...
A ti...

sábado, março 09, 2013

Se Tenho Coração, É Teu

Ondas de imaculadas sensações
Quando se saboreia algo tão delicioso
Outras percepções são desilusões
Capta-se herege e pecaminoso
É uma vergonha viver no suficiente
É embaraçoso quando os olhos fecham
É humilhante sentir deficiente
A terra onde os meus pés flamejam
Levei década e meia a encontrar o caminho
É uma vergonha não conseguir passar
Com um fantasma de ética a assombrar
A decisão de não me ver tão sozinho
Na qualidade do que é físico
Quando um saboreia tão alto
Qualquer outra peripécia o deixa tísico
A monumentalidade o induz ao salto
Mas a esperança acorrenta-lhe os pés
Após ténues visões de mundos escarlate
Que se tornam cinzentos ao invés
Na melancolia que ainda que não me mate
Pinta-me painéis de desespero
Na indubitável verdade de que te amo
Que delicia mas rasga não é exagero
E nestes doridos momentos eu declamo
Porque saboreei e vi tons de perfeição
Nos olhos e em todo o teu semblante
E me vejo na posição mais humilhante
De ter que caminhar a terra sem emoção
Porque se eu porventura tenho um coração
Que se faça amorfa matéria
E que se molde nas tuas mãos
Porque não suporto mais a miséria
De não estar nas tuas mãos
De não tocar as tuas mãos
De não ver as tuas mãos...
Gasto-o em ti...


sexta-feira, março 08, 2013

Marchando ao Ruído da Indústria

A maquinaria barulhenta perturba
Produção massiva sem emoção alguma,
Iludindo vulgo à espera que o consuma
Manipuladora publicidade deveras absurda
Exalta o gasto e a felicidade material,
Engana vorazmente uma massa humana abissal;

Itens imensos cuspidos mecanicamente
Graça da doentia maquinofactura,
Velocidade nauseante induz à loucura
Gerando gás e fumo poluindo incessantemente
Lucro vale a destruição do planeta,
Prostituindo ruína corporação proxeneta;

Mecânica que quase parece intermitente
Mas não é só máquina é também o Homem a sofrer,
Chicoteado no atalho do acto de sobreviver
Direitos Humanos, uma ilusão iminente
Que até a sobrevivência tem de ser merecida,
População faminta rasteja, a inópia é encarecida;

Fastio de observar a máquina a vapor
Automação, programação, lavagem cerebral,
Ossos são os braços da locomotiva do mal
Músculos são força de um frívolo motor,
Metrópole de almas vazias e indiferentes
Manejam a máquina que mutila o aço,
E mutila a esperança de jamais vivermos carentes
De uma utopia dissipada que só em sonhos abraço...
Escutando profecias de inverosímil progresso
Momentaneamente voo mas logo regresso...

Infelizmente regresso
Marchando ao som da Indústria,
Encadeado pelo metal
Nauseado pelos gases,
Enojado pelos óleos
Numa depressão mecânica...