sábado, maio 11, 2013

Linha de Montagem II

Dissolvo-me na conjuntura de oxidação
O cancro veio marchar sobre a metrópole,
O patronato demanda a liquidação
Lobos devoram-me na sacralidade da acrópole,
Que é a minha dignidade perdida
Para a sincronização de movimentos,
O fumo, o chiar, o óleo, faço-me vapor numa vida
Escarlate tétrico domina-me os pensamentos,
Os meus dedos furiosamente incham
Brotando fogo e ódio iminente,
Sobre as quimeras feitiços lançam
Num mundo onde a magia é indiferente,
É um Deus que olha para nós lamentando
Num trono jamais humilde e tão oco,
Uma criação cruel e inútil contemplando
Enquanto lentamente me faço louco,
Ressonância de sofrimento ao cessar do dia
As máquinas produzem dor a cada aurora,
E a tabuleta de indicações que lia outrora
Cravou em mim a sua obsoleta informação,
E eu caloso, ferido e queimado nesta indústria furtiva
Num pelotão de mortos-vivos disparo sobre a locomotiva,
Que feita de aço não sofre, já a minha paixão
A minha paixão é atirada para de baixo de,
Desconheço para baixo de onde, dissolve-se de tanta poluição
Talvez debaixo destas máquinas a não ser que,
A linha de montagem a tenha confundido com uma porca
Perdida entre peças de um produto sem alma alguma,
E patrulhando entre o cianeto e a forca
Deambulo trôpego e mudo numa noite de bruma,
A terra é a danação de uma alma e eu já perdi o Norte
Nestes arsenais de desespero, espero apenas a minha morte,
E sou depositado num contentor de lixo orgânico
Onde no meio de nauseantes cheiros, o silêncio soa-me oceânico.
O Fim.



P.s.:
Um pé de cabra na roldana
Uma obstrucção na engrenagem,
Salvem-me esta gente insana
Destruam-me a linha de montagem.

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