quinta-feira, maio 02, 2013

Linha de Montagem

O complexo mecânico velozmente traz as peças
Como suínos desventrados em ganchos para a plebe
Sem alma, estandardizadas e às centenas imersas
Nas minhas sujas e proletárias mãos onde se concebe
O novo produto a baixo preço de alta qualidade
Que cria fartura à conta da minha humilhação
Sou não mais humano ao ritmo de uma canção
Cantada em chiares e impactos no núcleo da cidade
O ritmo demoníaco desta maquinaria pesada
Sou levado à exaustão porque eu de facto sou nada
Apenas uma desalmada e fútil roda numa engrenagem
Fácil e friamente, inescrupulosamente substituível
Numa essencial, cega mas vital, cadeia de produção
Onde eu por mais que queira não me promovo além de pajem
O reles escudeiro de uma indústria complexa e indescritível
As minhas acções deixaram sequer de ser deliberadas
São repetidas maquinalmente, programadas, digitadas
O meu cogitar é dispensado, é desinfectado de mim
E o meu interior é uma caldeira, sangue esse... só há carvão
É a hulha incandescente cujo vapor faz bater o meu coração
Observo o oxidar da minha estrutura, enferrujarei até ao meu fim
Numa marcha de funções operárias, colérica e tuberculosa a minha imagem
Perdido no ritmo desumano da locomoção
Desta nefasta linha de montagem...

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