segunda-feira, setembro 30, 2013

Social Obituário

De rastos irado neste chão
No betão imune miro o portão,
Epitáfios extensos da razão
É ilusão toda a compaixão,
Marcham aqui por pena
Lamentando a la puta madalena
E até lágrimas têm dinheiro,
Até lágrimas têm interesse
Corrupto o mundo inteiro,
E que o mundo se fodesse
Esmigalham mais no martelo-pilão,
E vendem a uma qualquer dimensão.

Palavras fracas e braços podres
Demagogia sem respeito,
Enchem-se os odres
Vaza-se o peito
Saem da jaula de calças na mão,
Salário e silêncio sem coração
Escravatura mental sem logística,
Congregação empresarial
Nebulosa e mística
Escapa o elefante rosa em vendaval,
E decreta-se rebuçado social
Colocam-se cremalheiras na boca do povo,
Nos cântaros da esperança as ventosas
O burguês de ouro o homem-polvo,
Sob as condições mais horrorosas
Adquirindo tudo o que o tentáculo agarra,
Inópia do povo, e é mais uma farra.

domingo, setembro 08, 2013

Olhos para fechar

Ladeado de campos de trigo
Silenciosa foice colada na mão,
Suor, não mais humano e não
Saber mais como ainda consigo,

Numa bizarra submissão
Humilhante sobrevivência,
Justiça tem ambivalência
Advoga a quem não tem coração,

E ainda exaustos nos gaseiam
Viver serve para temer,
Ser infeliz e não poder escolher
Pensar é o que mais odeiam,

Quem pode rudemente escarra
Quem não pode é aniquilado,
Quem se atreve desesperado
Toca em escala menor a guitarra,

O mundo está corrompido
Devorado pela ganância,
Cornucópia para extravagância
E tão mal distribuída,

E não vêm, não ouvem, não falam
Humanos nesta geração digital,
Conectados à moda do capital
Desconectando-se e nem se ralam,

Humanos sem mais humanidade
Perdidos na graça material e banal,
Acreditam habitar uma aldeia global
Mas é uma extensa e imunda cidade,

E nos anúncios sorriem, é a manipulação
Seguem um pátio colorido para a desolação,
Fecharam-se sem grades numa grotesca prisão
E mirando a podre realidade, uma desilusão.