Ladeado de campos de trigo
Silenciosa foice colada na mão,
Suor, não mais humano e não
Saber mais como ainda consigo,
Numa bizarra submissão
Humilhante sobrevivência,
Justiça tem ambivalência
Advoga a quem não tem coração,
E ainda exaustos nos gaseiam
Viver serve para temer,
Ser infeliz e não poder escolher
Pensar é o que mais odeiam,
Quem pode rudemente escarra
Quem não pode é aniquilado,
Quem se atreve desesperado
Toca em escala menor a guitarra,
O mundo está corrompido
Devorado pela ganância,
Cornucópia para extravagância
E tão mal distribuída,
E não vêm, não ouvem, não falam
Humanos nesta geração digital,
Conectados à moda do capital
Desconectando-se e nem se ralam,
Humanos sem mais humanidade
Perdidos na graça material e banal,
Acreditam habitar uma aldeia global
Mas é uma extensa e imunda cidade,
E nos anúncios sorriem, é a manipulação
Seguem um pátio colorido para a desolação,
Fecharam-se sem grades numa grotesca prisão
E mirando a podre realidade, uma desilusão.
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