sexta-feira, março 21, 2014

Concluir é errar

Morte aos filósofos que chegam a conclusões!
Todos os magníficos filósofos
Que falam de verdades certas,
São leitores de inéditos hieróglifos
São perversas bruxas libertas
Deviam ser enforcados!
E se já defuntos são
Que seja o esqueleto pendurado
Como num pelouro em tamanha humilhação,
Se cremados,
Que se regurgite sobre as cinzas
Sobre os falsos achados,
Se o paradeiro dos resíduos é desconhecido
Pois que se repudie o espírito,
Desconhecido é o que julgam ter resolvido
Em lógica e experiência mundana sobre a qual tirito...
A sua obra não é categorizada como feitiçaria
Mas se alucinamos, a verdade é inalcançável
E esses filósofos que chegam ao inquestionável
São pois meros comuns que só escrevem porcaria!
Concluir é errar
Concluir é defecar!
E adormecendo todos os sentidos e todas as "razões",
Morte aos filósofos que chegam a conclusões!

segunda-feira, março 03, 2014

O que Há em mim é Apenas Cansaço

O que há em mim é apenas cansaço
Fartura, abundância do que não quero,
Nem sequer deixo de oxidar após me fingir de aço:
Cansaço assim mesmo, sentimento mais sincero,
E desolação.

O meu subtil sangue esse, é uma inútil árvore,
Derrubada por uma violenta empresa malaia,
O meu peito, um jazigo intenso de mármore,
Esse mármore frio, todo
Esse, cujo peso faz-me afundar eternamente nesta catraia;
Tanto cansativo remar para nada,
Em direcção a lado nenhum,
Nenhum.

Há sem dúvida a certeza de que veio para ficar,
Há sem dúvida a certeza,
De que sem dúvida tudo é uma incerteza -
E nesta incerteza, há a certeza de que sinto tristeza,
E que veio para ficar, e eu não quero nada disso:
Porque eu não quero que permaneça esta agonia atroz,
Porque eu não quero a certeza de que vou ficar preso neste gélido resquício
Porque eu não quero que apenas a triste incerteza ocupe o lugar da minha voz
Ou até que exista apenas nós... Eu e mais eu...

E o resultado?
Para mim, só uma doença que corrói tipo gangrena
A bíblica indiferença...
Ença... Ença... Ensa...
Inerte irrequietação e a cabeça que só pensa,
Cansaço.
E a leviatã indiferença.

Dominique Martinho, Supra-Álvaro de Campos