sábado, maio 24, 2014

A Morte do Cravo

Mas será que ninguém dá água a esta planta?
Há 40 anos que neste país não chove!
Rasteja a democracia e o desgraçado canta...
A seca revela-se intensa e dolorosa,
Descrença, obscurantismo e muito medo!
O povo resignado vai sobrevivendo,
A esferográfica navega deveras preguiçosa
A fila é curta e isso desaponta,
O vermelho já é fraco e mais desvanece
O Cravo nesta terra já nem desponta!
O Bernstein mascarado lá enriquece...

A luta tem mãos de decepados punhos, que já só manejam a máquina.
A sobrevivência dá-se à custa das lâminas que a cada dia vão abrindo mais a ferida nas mãos - até ficarmos sem dedos e sem sustento.
Nesta metáfora, os punhos têm ligação directa às cordas vocais e ao arreganhar do dente.
Ligação directa, como num autómato insensível de uma criação superior que gera riqueza, e que jamais será nossa.
E hoje, até a máquina já foi embora, para onde as engrenagens são mais silenciosas...
Poluindo sem fronteiras, o Cravo não tem como respirar...

Porque a fome há! E a mentira sacia...
Como uma miragem em que o eleitor confia,
A trapaça enganou e a decadência se afia
Que assim nos amputa a vontade e a força!
Na qualidade de puta, transforma carne em louça!
Numa cirurgia felácia que nos chupa com avareza
Cadaveriza e suga a defunta polpa até ficar tesa,
O caule da planta já se tornou acessório,
E celebra-se cada pétala num elevar inglório
Porque o povo que tudo ganhou, tudo perdeu,
Perdido na turbina privada onde tudo se fodeu.

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